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Blog do Maurício de Souza Lima

Quantos banhos será que eu posso tomar por dia? Não são tantos assim!

Maurício de Souza Lima

22/01/2020 04h00

Crédito: iStock

A temperatura aumenta, somam-se as férias e o maior tempo livre para fazer um esporte, ir à praia ou à piscina ou mesmo sair andando pelas ruas sob um sol escaldante. Depois, chegando em casa suado ou com a pele brilhando, o adolescente vai parar embaixo do chuveiro. Os pais reclamam da conta de água, alavancada por essa mania de limpeza. E, por falar nisso, nos dias de hoje também existe a questão ambiental e precisamos educar os jovens sobre ela, ensinando-os a poupar esse recurso desde cedo.

Mas não estou aconselhando ninguém a ficar pingando de suor e sujo. Quero responder, aqui, a pergunta que frequentemente me fazem no consultório: doutor, quantos banhos será que eu posso tomar por dia? E a minha resposta: o ideal é, no máximo, dois. Sendo que, atenção, apenas um deles seria completo, por assim dizer.

O que chamo de banho completo é aquele em que passamos sabonete com capricho por todo o corpo. A pele, afinal, é a moradia de milhões —sim, milhões — de bactérias boas, que formam uma barreira natural de escudeiros prontos a impedir a instalação no local de outras bactérias, nem tão boas, e de fungos, até mesmo porque competem com eles em uma disputa por espaço. No entanto, parte desses micro-organismos benéficos vai embora pelo ralo do banheiro, especialmente graças ao uso do sabonete —que é, sim, muito bem-vindo, não só para espantar células mortas, odores desagradáveis, partículas de pó, poluentes do ar, excesso de suor e de sebo natural, como até mesmo mandar embora agentes infecciosos com os quais, por azar, entramos em contato. Mas, como disse, uma bela parte das tais bactérias boas escoa junto. É preciso dar um tempo, depois, para sua população se recompor, sem jogar mais espuma antes que isso aconteça. Coloque aí umas 24 horas… Se não der para esperar tanto, que ao menos se dê um intervalo de doze horas.

Quando alguém sente demais a necessidade de uma segunda ducha antes disso, recomendo que banhe o corpo apenas com água. Esse repeteco no chuveiro não pode ser longo, deve evitar o sabonete e até mesmo buchas e esponjas — as quais, aliás, se não forem bem higienizadas e trocadas com frequência, viram um foco de contaminação da pele em vez de um instrumento de limpeza.

Também em nome da proteção da pele, as toalhas devem ser mantidas bem secas e este é mais um motivo para não viver repetindo a dose de chuveiro. Ora, elas precisam secar! No banheiro, cá entre nós, isso é mais difícil, porque esse ambiente costuma ser bastante úmido, abafado e mais escuro também, já que as janelas tendem a ser menores. Talvez valha a pena levar as toalhas em uso para secar na área de serviço por algumas horas. Mas está aí uma missão das mais complicadas, porque os jovens costumam abandonar a toalha usada de qualquer jeito, sem nem sequer estendê-las direito no local de banho, o que ao menos ajudaria a evaporar o excesso de líquido. Os pais devem lhes contar que esse mau hábito está associado ao aparecimento de micoses. E ninguém quer uma micose, não é mesmo?

Outro ponto para chamar a atenção é com a temperatura da água, que deve ser no máximo morna. Isso porque duchas quentes, especialmente as prolongadas, também arrasam a barreira protetora da pele. Não importa se é um banho completo ou se a ideia é só derramar uma água sobre o corpo para tirar o excesso de suor, a duração não pode ser maior do que cinco minutos, de novo pensando nas nossas defesas naturais, independentemente da economia tão necessária desse recurso natural. Por falar nele, bom a gente por último lembrar que não adianta muita coisa se refrescar de fora para dentro sem beber bastante líquido ao longo do dia. 

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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