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Blog do Maurício de Souza Lima

Jovens devem saber que não há mágica: ninguém ficará sarado até o réveillon

Maurício de Souza Lima

20/11/2019 04h00

Crédito: iStock

Dezembro se aproxima e as academias lotam. Ficam cheias de gente de todas as idades. Adolescentes, portanto, não são exceção. E o que mais vejo nessa época são jovens tomando uma série de suplementos — alguns com formulações duvidosas —  e fazendo uma quantidade exagerada de exercício, sonhando com aquele réveillon sarado pensando na perspectiva do jogo da paquera na praia, onde todos querem exibir uma barriga tanquinho e músculos definidos. Nada contra, mas… Gente, vamos lembrar que não há mágica. Simplesmente não há.

Não adianta querer mudar o corpo em tempo recorde e fazer em dois meses todo o exercício que não foi feito ao longo do ano inteiro. Isso é particularmente perigoso na fase de crescimento, quando músculos, tendões e ossos, muitas vezes, não se desenvolvem na mesma velocidade, deixando o jovem com aquele jeito desengonçado. 

A diferença na proporção entre essas estruturas favorece todo tipo de lesão, como tendinites e até mesmo fraturas de estresse — é quando se força tanto, mas tanto o corpo, que se formam rachaduras minúsculas nos ossos. Daí, por qualquer bobagem — um salto ou uma topada em um jogo, por exemplo —, eles se quebram.

Além de exagerar na quantidade e na intensidade dos treinos, o adolescente fica tentado a não comer direito para emagrecer depressa e, assim, perdendo a capa de gordura, a musculatura saltar mais definida. Sem se alimentar direito, tem tudo para desmaiar, então, em algum exercício mais extenuante. Pior quando o menino ou a menina usa essa estratégia — treina demais e come de menos — quando era sedentário no passado. Os riscos sempre existem, mas pioram em uma situação dessas, quando não há um período de adaptação.

Aliás, uma coisa que é sempre deixada de lado quando o adolescente resolve malhar é a checagem das condições cardiológicas. Sim, apesar da idade, ela nunca deixou de ser fundamental — o médico precisa saber como aquele organismo, apesar de jovem, se comporta durante o exercício extremo. E também de descobrir a quantas anda a glicemia, ou seja, a quantidade de açúcar no sangue, prevendo a hipótese de ela despencar com facilidade durante a malhação.

No mais, em relação ao horário, não tem certo nem errado. Talvez, no verão escaldante em algumas regiões do país, valha a pena evitar o do almoço, com seu pico de temperatura, especialmente quando há tendência a pressão baixa. Um recado fundamental é dormir bem. Sei que pareço viver batendo nessa tecla, mas o sono é mesmo essencial para o corpo formar músculos. 

Ao lado da boa alimentação, ele faz mais efeito para deixar a aparência sarada do que qualquer suplemento. E este, claro, só deve ser consumido com muita orientação, no caso de adolescentes que treinam pra valer algum esporte, querendo se tornar atletas ou já competindo. E ainda assim, reforço, só com o olhar de um especialista por perto.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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