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Blog do Maurício de Souza Lima

A roubada de se automedicar com sprays para desentupir o nariz

Maurício de Souza Lima

09/10/2019 04h00

Crédito: iStock

Chega a primavera, com o tempo seco em algumas regiões do país e até mesmo com as grandes variações de temperatura ao longo de um mesmo dia observadas por aí, noto um grande número de adolescentes usando e abusando de sprays nasais com vasoconstritores. Entendo: a mucosa ressecada deixa o nariz cada vez mais irritado nesta época do ano. Tem a aula, tem a prova, tem a festa… E ficar com as narinas entupidas é mesmo perturbador.

O problema desses sprays é que a vasodilatação de fato provoca um alívio imediato, mas ele nunca dura muito. Aliás, a duração do efeito fica cada vez menor. Tudo indica que surge uma certa dependência: o período entre uma borrifada e outra tende a se tornar mais curto, especialmente ao anoitecer. E, quando se entra nessa desde a adolescência, o adulto não respira sem largar o maldito spray.

Sendo franco, não há registros, no caso de adolescentes, de problemas de pressão arterial mais graves como há em adultos usuários assíduos desse tipo de medicamento, causados justamente pelas substâncias da fórmula que comprimem os vasos. No entanto, penso que a dependência, por si só, já é algo para a gente ficar de olho. 

O ideal é orientar os jovens a fazer lavagens com soro fisiológico nas narinas — e com abundância, sem economizar esse soro. Mas, na ansiedade típica da idade — e até porque um  nariz tapado é desagradável demais—, eles acham que isso não vai funcionar. Preferem a rapidez de ação dos vasoconstritores — especialmente na hora de dormir, porque é quase impossível pegar no sono sem respirar direito. 

Só que eu garanto que a lavagem usando soro fisiológico pode ser bastante eficiente. A questão é que ela exige mais disciplina, algo que é difícil cobrar na adolescência. E, claro, paciência. Ora, não adianta borrifar líquido de manhã, uma vez só à tarde, depois apenas outra borrifadinha à noite. É preciso repetir o procedimento várias vezes — várias mesmo — durante o dia inteiro para sentir alguma melhora.  

Claro, o nariz ressecado, quando o soro não resolve, merece uma ida ao otorrinolaringologista. Especialmente se o quadro começa a complicar, porque o muco acumulado pelo nariz entupido vira o ambiente ideal para o crescimento de bactérias causadoras de doenças — isso é um fato. A situação também pode ser provocada por uma gripe ou por um resfriado. Mas  a rinite, como a do tal nariz irritado pelo clima seco, igualmente pode virar sinusite. É quando a infecção toma conta dos seios da face. 

Surgem então tosse, cansaço, dor de cabeça e febre. E é preciso tratar ligeiro. A pior roubada, porém, é se automedicar em uma hora dessas. Aliás, a pior roubada é se automedicar até mesmo antes de qualquer complicação, quando o nariz simplesmente entope. Vasoconstritores farão com que a pessoa precise cada vez mais deles para respirar de boa. Entre uma dose e outra, o muco continuará se acumulando. As infecções podem se tornar frequentes. Não, eu não recomendo. 

O que indico é, como já mencionei, a consulta no otorrino. Esse profissional poderá até mesmo checar se não existe um desvio de septo, estreitando a passagem do ar e piorando tudo de vez. Se houver, o certo — aproveito para avisar — é esperar o estirão da puberdade terminar para, daí sim, se submeter a qualquer cirurgia corretiva no nariz. Até lá, já sabe, muito soro nele.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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