Adolescente sempre acha que dá tempo para tudo; isso pode virar problema

Crédito: iStock
Aviso: faz parte da adolescência a dificuldade para administrar o tempo. Não tem a ver apenas com o excesso de tarefas, embora isso ajude. Afinal, temos a escola, o inglês, o esporte, a festa, o momento de ajudar os pais… Nem somente essa dificuldade está relacionada com a vontade de passar todas as distrações do mundo (e são tantas) à frente das horas de estudo, embora isso exista também.
Além dos fatores comportamentais e do ambiente — que nos dias modernos nunca colabora —, há uma questão do amadurecimento do sistema nervoso central.
Fique sabendo que o jovem nem sempre enrola quando acha que vai dar tempo de sair com os amigos e, ainda assim, se preparar para a prova. Ou ficar pendurado no celular e ir para a aula sem atraso. Ele realmente acredita nisso. Sem contar que postergar é próprio dessa idade.
Mas, quase invariavelmente, chega um momento em que o gargalo aperta. Sente os efeitos da sobrecarga e manifesta sinais claros de estresse. As escolas muita vezes não colaboram: a grade curricular já anda superlotada com aulas e aulas preparatórias para exames e elas ainda inventam novas obrigações para mostrar que são boas. Não adianta reclamar. O sistema de ensino está assim.
A saída viável é ajudar o adolescente. O primeiro passo é sentar-se ao seu lado para reavaliar quais tarefas são realmente importantes ao longo da semana. Por exemplo: se ele tem uma sessão de terapia em determinado dia, precisa ter noção que esse compromisso é inegociável. E que, se algo atrasar, ele terá de cortar aqueles 15 minutos no celular, em vez de chegar atrasado à consulta. Não pense que um adolescente consegue enxergar isso sozinho, embora pareça óbvio aos olhos dos adultos. Pela questão da maturidade do sistema nervoso, nem sempre é o que acontece. Aqueles 15 minutos no celular parecem apenas 5 na sua cabeça.
Também não é fácil calcular o tempo de deslocamento de casa para o colégio ou qualquer outro canto, independentemente do trânsito. Repito: administrar o tempo não é a praia do cérebro adolescente.
Na agenda que sugiro, criada a quatro mãos, o fundamental — como apontam diversos trabalhos — é reservar um tempo diário para o jovem não fazer nada. Simplesmente nada.
As novas gerações precisam aprender algo que até nós mesmos, os mais velhos, desaprendemos: passar alguns minutos diariamente desocupados. Olhando o teto, se for o caso. Ouvindo uma música, quem sabe. Sei lá… Não vale ficar respondendo amigos nas redes sociais — isso é permanecer ativo.
Infelizmente, o tempo desocupado é encarado com culpa. Parece desperdiçado. Ninguém fica quieto, sem atividade, por um instante sequer — a não ser aqueles que praticam meditação. Mas não é disso que estou falando. Não estou recomendando meditação para todos os adolescentes.
Entre lições, aulas, passeios, lazer (sim, porque o lazer pode ser consumido com uma atividade), a agenda do jovem necessita de espaços em branco. São esses espaços vazios que, aos poucos, podem ajudá-lo a perceber a passagem das horas.
Depois, esse modelo pode ser aplicado na semana. Por exemplo, um festival como o recente Lollapalooza pode pedir dias sem fazer nada depois. Alternância de ocupações e sossego. Mesmo que as ocupações pareçam agradáveis para o menino ou a menina. A rotina de festas, sem limites, acaba sendo extenuante para o corpo e a mente de um adolescente. Claro que ele não se dá conta.
A observação do tempo, graças a esses vazios entre os compromissos, é que ajuda mais do que qualquer outra coisa, o jovem a se organizar. E, só assim, ele ficará menos estressado em um mundo onde a agitação e as horas preenchidas invadem até mesmo as noites de sono.
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