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Blog do Maurício de Souza Lima

Infertilidade: um risco se a clamídia passar despercebida na adolescência

Maurício de Souza Lima

20/03/2019 04h00

Crédito: iStock

Infecção sexualmente transmissível muito prevalente no mundo inteiro, a clamídia pode acometer homens e mulheres de qualquer idade. Aliás, a bactéria Chlamydia trachomatis, que causa a doença, pode contaminar até mesmo bebês na hora do nascimento, se a mãe está infectada e o parto é normal. No entanto, eu chamo a atenção para essa doença nos adolescentes. 

Um dos grandes problemas da clamídia é não ser tratada direito, o que tende a ser pior nessa fase vida. Muitos jovens não dão a menor bola para os seus sinais que, de fato, são bem menos exuberantes do que os da gonorreia e de outras infecções transmitidas pelo sexo.

Apesar de a bactéria poder agir na região anal, na faringe e nos pulmões, em geral ela apronta mesmo é na uretra. E aí tudo o que o menino e a menina com essa infecção sentem é um leve ardor na hora de urinar. Não é uma sensação forte o bastante para que suspeitem de uma infeccção urinária, aí é que está. Acontece no instante em que a urina sai e é esquecida logo depois. E, para confundir, nem sempre aparece sempre que  as pessoas com clamídia vão ao banheiro. Surge um dia, desaparece no outro. Não tem "cara", digamos, de algo mais importante. Daí mesmo é que a  garotada passa por cima, às vezes nem comenta nada com o médico.

Nos meninos, a clamídia, depois de um período de quinze dias sem manifestar qualquer sintoma — período em que, mesmo assim,  já pode ser transmitida para parceiro ou parceira — , é capaz  desencadear uma inflamação nos testículos, o orquite. Isso ao menos leva o garoto ao consultório, já que dói. O problema é que, se a infecção não for tratada, com o tempo ela promoverá obstruções que, no futuro, irão impedir a passagem dos espermatozoides. Ou seja, resulta em infertilidade masculina.

Nas garotas, a bactéria pode alcançar as tubas e também deixá-las obstruídas. Como são o local de encontro do espermatozoide com o óvulo, claro que isso se traduz como um legítimo obstáculo à gravidez. Aliás, se por acaso a moça engravida, também há o risco de o ovo fecundado não conseguir, graças ao caminho estreito, descer e alcançar o útero. É quando ocorre a gravidez tubária ou ectópica, que acaba sendo interrompida. 

Além do ardor que pode surgir na hora de urinar — mas que, repito, não acontece sempre —, as meninas às vezes observam um leve escape de sangue entre as menstruações. Isso deveria chamar a sua atenção.

Ninguém precisa ficar apavorado. Apenas deve notar e contar para o médico qualquer coisa diferente, mesmo que pareça bobagem.  O exame para flagrar a clamídia é fácil, confirma a infecção em no máximo dois dias. E um antibiótico certeiro pode resolver a situação.

Se ela for ignorada, a ameaça de infertilidade se tornará cada vez maior com o passar do tempo, ainda mais a inflamação começando tão cedo. O que é na minha opinião é uma pena até maior na adolescência, quando a gente sabe que a meninada tem toda uma vida pela frente, podendo decidir ter filhos ou não no futuro. Para existir a chance de optar, o ardor na hora de fazer xixi, por exemplo, não pode passar batido.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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