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Blog do Maurício de Souza Lima

Saiba o que fazer quando o adolescente bate a cabeça pra valer

Maurício de Souza Lima

03/10/2018 04h00

Crédito: iStock

Crianças batem muito a cabeça porque correm, topam com quinas de mesas, se trombam e caem com a testa no chão. Esse tipo de acidente, digo, bater a cabeça, pode acontecer em circunstâncias diferentes na adolescência, mas não se torna menos frequente. Quando não são as cabeçadas no futebol ou as quedas em esportes radicais, há as lutas "de brincadeira" e os quase inevitáveis tombos de bicicleta, do skate… Aliás, acho que nem preciso dizer que deixar de usar capacete nessas duas situações é um erro bárbaro.

Antigamente, quando a mãe levava o menino ou a menina no pronto-socorro depois de um batida dessas, nós deixávamos em observação e só fazíamos um raio X. Era, afinal, o que tínhamos disponível. Mas aviso: o raio X consegue apontar apenas se houve uma fratura no osso do crânio. Se ocorreu uma lesão na massa cinzenta, como um pequeno sangramento, esse exame não irá denunciá-lo. Para isso, felizmente hoje temos recursos mais indicados, como a tomografia ou a ressonância magnética, que podem, sim, dar uma ideia de como ficou o cérebro depois da testa encontrar o chão, por exemplo.

Nem sempre é preciso chegar a esse extremo. Antes disso, os adultos devem perguntar se o jovem perdeu a consciência na hora agá ou, ainda que por poucos segundos, instantes depois da batida. Se isso aconteceu, ele realmente vai precisar ser levado a um serviço de saúde para receber mais atenção.

Outro sinal importante: se o jovem, mesmo sem ter desmaiado, demonstrou estar confuso e desorientado logo após o choque com a cabeça. Por exemplo, se ele não se lembrava direito do que tinha acontecido, nem sabia onde estava ou confundiu o dia da semana. Isso também acenderia uma lâmpada amarela.

Finalmente, outra coisa que dispara o alarme é o vômito. Isso porque o cérebro pode inchar ou apresentar um sangramento capaz de comprimir uma determinada região. E essa compressão, por sua vez, provoca a sensação de enjoo. É um sinal importantíssimo.

Se quando o garoto chega em casa fica impossível saber de tudo isso — porque ele não conta, não se lembra, os amigos que o trouxeram não repararam bem —, na dúvida é melhor levá-lo ao pronto-socorro também. Quando se trata de sistema nervoso central, melhor pecar pelo exagero. E isso mesmo que o adolescente não reclame da cabeça e, sim, dessa ida a um hospital. Às vezes, quando alguma estrutura se rompe dentro do cérebro, os sintomas só dão as caras horas depois. Em geral, o garoto ou a garota explode de dor de cabeça —e, nesses casos, o analgésico fará pouco efeito.

Em casa, aliás, mesmo que tudo aparentemente esteja tranquilo, o ideal seria aguardar algumas horas sem tomar remédio algum, para não mascarar o sintoma da dor. Pelo mesmo motivo, também é bom seguir o velho conselho de não deixar o adolescente dormir. Não que o sono, em si, faça algum mal. Mas é que, aí, perdemos o parâmetro e ficamos sem saber se o mal-estar ou a confusão mental estão aumentando. Ou pior: ele pode vomitar dormindo e aspirar perigosamente esse conteúdo. O certo, aliás, é alguém ficar por perto nas primeiras 24 horas, o tempo todo, monitorando a situação, para chamar por socorro, se necessário.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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