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Blog do Maurício de Souza Lima

Colesterol e triglicérides altos também são coisas da adolescência

Universa

23/05/2018 04h00

Tem muito menino e menina que vira adolescente sem nunca ter feito um exame sequer para saber a quantas andam as gorduras no sangue. E, na entrada da puberdade, não dá mais para protelar.

Puberdade, já sabe, é a etapa dentro do período da adolescência que concentra as transformações físicas. Ou seja, surgiram os primeiros pelos, o apetite aumentou, aquele par de tênis comprado há apenas dois meses já não serve mais? São sinais de que está na hora de conversar com médico sobre colesterol e triglicérides — temas que, na cabeça das pessoas, são mais ligados à vida adulta. Errado.

O check-up de um adolescente vai bem além de dosar seus hormônios. E, em um planeta no qual a maior causa de mortes são as doenças cardiovasculares, é claro que se torna fundamental acompanhar os níveis de gorduras no sangue para prevenir problemas futuros. Até porque o efeito do excesso dessas substâncias na circulação é cumulativo e a longo prazo.

Se na família existem indivíduos com colesterol elevado — especialmente se for o pai ou a mãe, claro — , é preciso ficar ainda mais alerta. Alguns casos têm a ver com hereditariedade e eles são, por vezes, enganadores. Primeiro, vamos lembrar: nem colesterol, nem triglicérides nas alturas provocam sintomas. E, para piorar, todo mundo tende a associar níveis altos dessas gorduras aos jovens gordinhos. De novo, errado.

Há, infelizmente, muito adolescente com colesterol alto que é magro. E, se há uma tendência genética, como a maior parte da substância é sintetizada pelo próprio fígado — apenas uns 25% são provenientes da alimentação —, para confundir ainda mais, esse garoto ou essa garota pode até comer de maneira equilibrada e fazer alguma atividade física. Ninguém desconfiaria.

Enquanto isso, na surdina, o colesterol em níveis estratosféricos começa a formar placas nas artérias. Aos poucos, elas vão diminuindo o espaço para o fluxo do sangue passar, o que aumenta a pressão da circulação sobre as paredes internas desses vasos. Resultado: a gente encontra cada vez mais adolescentes que são hipertensos. Por trás da pressão alta, muitas vezes há o desequilíbrio das gorduras, além de outros fatores.

Mesmo quando a origem do problema é genética, o médico nem sempre entra com medicação de cara, como as famosas estatinas para baixar os níveis do colesterol. Na maioria das vezes, ele primeiro tenta controlar a situação prescrevendo mais sessões de exercício durante a semana e orientando a dieta — no caso, com a ajuda de um profissional de nutrição.

O consumo de alimentos cheios de fibra, por exemplo, ajuda bastante e eu, particularmente, recomendo que os adolescentes às voltas com um colesterol elevado procurem consumir 5 colheres de sopa de aveia diariamente. Nem todos conseguem , mas as fibras solúveis da aveia, uma vez no intestino, arrastam parte do excesso de colesterol para fora.

Se nada disso funciona, óbvio, é preciso pensar em saídas medicamentosas, antes que a situação chegue a um ponto que será difícil de reverter mais tarde. E reforço: os estragos nas artérias provocados ainda na adolescência poderão ser o estopim, lá adiante, de um infarto ou de um acidente vascular cerebral, o AVC.

Existem jovens, porém, que apresentam colesterol e triglicérides em níveis preocupantes e que, no entanto, não carregam uma predisposição genética. E, aí, o problema tem a ver exclusivamente com uma alimentação desequilibrada somada ao sedentarismo. Não pense que é mais fácil corrigir casos assim.

O mau comportamento não costuma ser do garoto ou da garota isoladamente, mas tem a ver com a dinâmica da casa. E, às vezes, pode ser complicado mudar os hábitos de uma família inteira. Ela precisa ser parceira e aproveitar a oportunidade para que todos se empenhem no sentido de adotar atitudes mais saudáveis, em vez de só ficar culpando o que o filho come quando está na rua. Não é por aí.

Nesse ponto, os triglicérides — que fazem tão mal para o sistema cardiovascular quando o colesterol — são bem mais sensíveis aos ajustes na dieta. Se a gente consegue convencer o adolescente a consumir menos carboidratos simples, como o açúcar, seus níveis reagem depressa e de maneira muito positiva.

Para que tenha noção, em geral os valores de triglicérides devem ficar abaixo de 100 mililitros do decilitro de sangue. Os do colesterol total, menores do que 150 ml/dl. Os do LDL, que popularmente as pessoas chamam de colesterol ruim, inferiores a 110 ml/dl. E, no caso do HDL, que seria o colesterol bom, o ideal é que ele fique acima de 40 ml/dl. Mas, como mencionei, isso é apenas para lhe dar uma noção. Os valores de referência mudam ligeiramente de laboratório para laboratório e, conforme a idade do adolescente, eles não serão iguais aos dos adultos.

O que mais funciona, pela minha experiência, é estimular o próprio adolescente a alcançar os níveis ideais como se a meta fosse um tremendo desafio para ele, quase como em um jogo de videogame, testando suas habilidades. Parece algo esquisito, mas é o que dá mais certo.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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