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Blog do Maurício de Souza Lima

Piercing: não é só colocar e pronto. Os cuidados são para sempre

Maurício de Souza Lima

16/05/2018 04h00

Crédito: iStock

Muitos jovens querem colocar um piercing. E, na minha opinião, conforme a idade do filho, os pais não deveriam ceder tão ligeiro a essa vontade — pelo menos, precisariam ganhar um tempo para ponderar com o adolescente sobre o material do acessório, em que local do corpo ele será colocado, os riscos e a manutenção.  E sentir firmeza de que ele ficará atento a qualquer reação do seu corpo depois. Isso é uma questão de saúde. Porque, ao contrário do que muitos imaginam, não é só fazer um piercing e pronto.

Mesmo que, logo depois do procedimento, tudo pareça bem só deixando de lembrança uma leve sensação dolorosa, que é normal , o corpo ainda poderá rejeitar a novidade com violência, disparando inflamações sérias em um belo dia, dentro de um período de cicatrização que varia bastante.

Ninguém deve se deixar levar pela aparência exterior. Um piercing no umbigo demora de 6 meses a 1 ano para cicatrizar internamente, assim como o que é feito na língua ou nos lábios. No mamilo, o período vai de 6 a 8 meses. No lóbulo superior da orelha, a coisa toda também toma tempo: não se pode sossegar antes de terem se passado quatro meses. Claro, no lóbulo inferior, o do brinco clássico, são apenas dois meses de espera. No nariz ou na sobrancelha, de dois a quatro meses. Invariavelmente, é preciso passar um bom intervalo ficando de olho.

Além de tomar todas as precauções, seguindo à risca a orientação de quem colocou o acessório — e espero que esse profissional tenha sido escolhido de acordo com critérios de higiene e segurança —, o adolescente não pode desconsiderar sinais como aumento da temperatura local, vermelhidão e dor. Se já se passaram dois ou três dias da colocação — e olhe lá — esses sintomas indicam, sim, algo de errado. O melhor, então, é procurar um médico. Até porque esses processos inflamatórios mais severos podem levar ao aparecimento de cicatrizes bem feias no local. Em tempo: estudos indicam que 30% dos adolescentes que colocam piercing sofrem alguma reação indesejada.

Depois do período de cicatrização, os cuidados continuam. Principalmente com a higiene. Piercings colocados em orifícios, como aqueles no nariz, no umbigo e na boca merecem ainda mais atenção para que não acumulem sujeira o que, no mínimo, gera mau hálito, no caso daqueles que são feitos na língua. Mas a pior ameaça é que virem foco de infecções que podem ser espalhar pelo corpo.

Outro aspecto a ser observado é o do atrito. Por exemplo, piercings na língua podem levar a fraturas nos dentes e a inflamações nas gengivas — o olhar de um especialista em odontologia para analisar a situação é bem-vindo.

Em São Paulo, há uma lei estadual criada em 1997, a de número 9829, que impede que um adolescente menor de idade coloque um piercing, mesmo que tenha o consentimento dos pais. Não acredito que seja o caso de se replicar esse modelo em outras localidades. Mas sou favorável à ideia de esperar que o menino ou a menina amadureça um pouco para saber adotar todas as precauções.

 

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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