Topo

Histórico

Categorias

Blog do Maurício de Souza Lima

O peso na primeira menstruação determina a tendência a engordar? É possível

Maurício de Souza Lima

14/03/2018 04h00

Crédito: iStock

Essa é uma ideia comum entre as pessoas —  a de que a menina, se já estiver gordinha ao menstruar, terá uma tendência a engordar pelo resto da vida. E posso explicar no que se baseia esse pensamento.

Uma criança cresce cerca de 4 centímetros por ano. Mas, na entrada da adolescência, quando chega o momento do estirão puberal, é como se o organismo pisasse com força no acelerador. Então, as meninas ganham em torno de 10 centímetros por ano . Os meninos aumentam até mais de tamanho, uns 12 centímetros no mesmo período.

Só que, no caso delas, quando desce a primeira menstruação, que nós chamamos de menarca, o crescimento desacelera abruptamente. Claro, a garota continuará ganhando estatura, mas agora em um ritmo bem diferente, muito mais lento. E aí é que está: crescer dá uma fome danada. Quem tem adolescente em casa sabe disso. Se não houver atenção para a qualidade das refeições…

O apetite aumenta porque, na fase do estirão, o organismo clama por energia. Daí que, se antes mesmo de menstruar a garota passa a matar essa fome acentuada devorando itens muito calóricos, ela provavelmente ficará acima do peso. E, com a menarca, poderá ser muito pior: a tendência é que continue acostumada a só se sentir saciada com porções generosas no prato, sem contar a mania adquirida de ficar beliscando doces e guloseimas.

O problema é que, depois de menstruar, o seu organismo não consumirá mais tanta energia aumentando de tamanho. Ora, ele, aos poucos, vai parando de crescer e o excesso de calorias ingeridas irá se acumular pelo corpo na forma de gordura. Ou seja, existe o risco de a menina engordar — ou engordar ainda mais, se já estava com alguns quilos extras.

Precisamos pensar também no fator genético, que é muito importante em toda essa história. A família deve ficar mais atenta se um dos pais é obeso ou até mesmo os dois — e isso mesmo que a menina seja magra. Ora, como já viu, o estirão pode ser o momento ideal para a jovem desenvolver um apetite de leoa. Ela precisa matar essa fome, óbvio, mas com uma dieta saudável.

Eu ainda preciso esclarecer um detalhe para não haver qualquer confusão: tanto meninos quanto meninas, um pouco antes da entrada no estirão,  apresentam a tendência a acumular um pouco de gordura na região abdominal. Isso é normal. Essa gordurinha abaixo do umbigo funciona como uma espécie de reserva de energia, por assim dizer, para aquela criança crescer velozmente logo adiante. Aí, não há motivo para se preocupar. Às vezes os pais têm a impressão de que a menina ficou barrigudinha, mas seu organismo está simplesmente se preparando para a arrancada do crescimento. Se ela não comer demais, estará tudo certo.

O ideal seria não ficar o tempo todo pegando no pé da garota sobre o que ela come ou deixa de comer, mas orientar as escolhas alimentares. Até porque, nessa fase, não podemos nos esquecer que é comum a menina sentir muita ansiedade.  E a garota , uma vez ansiosa, poderá  buscar na comida uma sensação de conforto.

Sim, em resumo, é preciso tomar cuidado com o excesso de peso no período em torno da primeira menstruação. Imagine que a orquestra hormonal vai tocar outra música quando descer a menarca e  que ela poderá perder complemente o tom e o ritmo se houver  excesso de peso, sedentarismo e alimentação desbalanceada.

 

 

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

Blog do Maurício de Souza Lima