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Blog do Maurício de Souza Lima

Nada de pedir atestado para malhar sem fazer exames só por ser adolescente

Maurício de Souza Lima

06/03/2019 04h00

Crédito: iStock

Com uma frequência maior do que no passado, noto que o adolescente está começando cedo a fazer uma atividade física mais intensa do que recreativa. E muitas vezes, até por ser jovem, muita gente menospreza a importância de uma consulta médica prévia e de certos exames que precisam, sim, ser solicitados. É comum que liguem para o médico da família simplesmente pedindo um atestado, sem que o profissional examine propriamente o garoto ou a garota. Isso não é bom.

Para que um adolescente seja liberado para um treino mais forte, é fundamental que o médico conheça, antes de mais nada, o seu histórico familiar: aconteceram casos de infartos ou derrames cerebrais na família? E, claro, o olhar deve ficar ainda mais atento se houve um episódio desses em parentes com menos de 40 anos. Aí, acende-se a lâmpada amarela. Outro ponto, ainda analisando o histórico, é saber se há muitos familiares hipertensos ou com colesterol alto.

Se não perceber nada de errado no exame clínico, nem ficar com uma pulga atrás da orelha após conhecer o histórico, a gente poderá pedir apenas o eletrocardiograma. E, mesmo assim, conforme o traçado desse exame que registra os batimentos do coração, talvez complementar com o ecocardiograma. 

O ecocardiograma é uma espécie de ultrassom do coração, que particularmente acho importante solicitar aos jovens para ver como está essa estrutura. Ora, o coração é feito uma caverna e o ideal, nessa faixa de idade, é ver se existe um espessamento de suas paredes, uma hipertrofia em qualquer uma de suas quatro câmaras ou um defeito nas válvulas, que seriam as passagens entre elas. Na juventude, problemas assim correm o risco de passar batido, até que algo mais grave aconteça.

Às vezes, existem crianças em que há uma pequena comunicação entre duas das câmaras cardíacas, os átrios, e o esperado é que se ela se feche antes da entrada na adolescência. Se  essa passagem que não deveria existir passou despercebida antes e se o menino ou a menina insistir em muito treino, pode ser que o problema se agrave, assim como o excesso de exercício é capaz de aumentar qualquer deformidade preexistente.

Por isso, não pedir nada, nenhum exame, só porque se trata de um jovem que aparentemente esbanja saúde é um preconceito capaz de gerar um risco. Para treinar, o adolescente precisa passar por uma boa consulta, sim. Além de ver o coração, é fundamental prescrever exames de sangue, até para o médico saber a quantas anda, por exemplo, o colesterol. No caso, não para proibir o adolescente de mexer o corpo — se a gordura no sangue estiver alta, será até bom acompanhá-la , só para observar sua inevitável queda com a atividade física.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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