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É saudável deixar o adolescente dormir com a namorada em casa? Depende

Maurício de Souza Lima

07/02/2018 09h46

Crédito: iStock

A pergunta é feita com enorme frequência no consultório. Claro, às vezes também é o caso de uma menina que quer dormir no quarto dela com namorado –ou, quem sabe, com a namorada, no leque  de possibilidades da orientação sexual. Não importa. A angústia de alguns pais é sempre a mesma, se devem ou não devem permitir. E a minha resposta é sempre a mesma também: depende.

Quando eu os questiono, alguns adultos refletem e notam que, embora às vezes não estejam muito à vontade por ser uma situação completamente nova para eles, preferem mesmo que os filhos durmam com seus parceiros ou parceiras em casa. No fundo, eles acham que, desse jeito, os jovens ficarão mais seguros. Na cabeça desses pais, quanto mais distante de casa, maior a exposição da meninada a riscos, o que nem sempre é verdadeiro. Pode até ser pura fantasia. Mas vale ser considerada.

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Já outros pais abominam a ideia. Têm certo constrangimento em admitir isso porque parece que estão na contramão. Vão ouvir –inevitavelmente– que os pais da amiga deixam. Que na casa daquele colega é diferente e que lá, sim, é legal. Não importa. Se você, pai ou mãe, não vai se sentir confortável, acredite no que estou falando: diga não.

A decisão final deve ser sempre dos pais e, sei, conforme o caso não deve ser fácil sustentá-la. Mas é necessário. Caso contrário, em nome do bom relacionamento o adulto dá um passo à frente para, depois, dar mais dois para trás.

Independentemente de valores morais, religiosos, quaisquer outros, a tomada de decisão precisa ser de ordem muito prática: você vai se sentir bem? Muitas vezes, a pessoa simplesmente se irrita em, ao acordar, encontrar alguém de fora perguntando onde está o leite. Pode achar bobagem, mas sabe que às vezes são essas pequenas atitudes que dão fisgadas no humor e desencadeiam discussões em família?

Quando não há uma boa reflexão, os pais podem até topar em um primeiro momento. E depois ficam cismando com quem vem fora. De implicância em implicância, o relacionamento com os filhos, que era bom, vai ficando contaminado. E, pior, uma vez que permitiu as noites de namoro em casa, será bem difícil rever essa decisão depois.

Está na dúvida? Não sabe como vai reagir na hora agá ou se se dará bem com o namorado ou com a namorada do adolescente? Sugiro um teste light. Façam uma viagem de final de semana. Essa é uma situação reversível. E prudente.

Se  acabar aceitando o hóspede noturno (ou a hóspede), antes mesmo da noite de estreia, chame o seu filho para uma boa conversa e deixe claro as regras da sua casa. É um ótimo momento para ensinar o adolescente que, entre as quatro paredes do seu quarto, ele tem espaço suficiente para viver toda a sua intimidade. Mas talvez –e só talvez– você não queira ver gente circulando de pijama pelos corredores, nem presenciar amassos cinematográficos na mesa da cozinha.

O adolescente, em alguns casos, entende a permissão para dormir com quem namora no seu quarto como um passe livre para manifestar a sua paixão por todos os cômodos. De novo, não há certo, nem há errado: cada família é que sabe de si. Alguns acham ok, outros não. Como é a sua família?

Importante é que, se casados, o pai e a mãe estejam confortáveis. Ambos. Não vale um ou outro. Ou, de novo, o que deveria ser trivial se transforma em motivo de atrito. Quando o casal é separado, o que vale para a casa da mãe talvez não valha para a casa do pai e vice-versa. Sem problemas.

Na verdade, essa história de levar o namorado para dentro de casa é um belo exercício de transparência e compreensão dos limites uns dos outros. Nada mais saudável do que esse aprendizado para pais e filhos adolescentes.

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Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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