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Escoliose da coluna costuma ser herança de família e deve ser tratada

Maurício de Souza Lima

04/03/2020 04h00

Crédito: iStock

Na semana passada, como a moçada saiu para o Carnaval com o corpo mais exposto, a imagem era nítida: o maior bloco nas ruas foi o da escoliose! Brincadeira à parte, a escoliose idiopática, isto é, de causa desconhecida, é um problema bastante comum na adolescência. Até 15% dos jovens vão apresentá-la.

Embora o problema possa aparecer em qualquer idade, o estirão da puberdade é um momento crítico. No auge do crescimento, a coluna vertebral pode se desviar para um dos lados e, mais do que isso, costuma haver um desvio rotacional também. Ou seja, para completar, as vértebras ainda giram em torno do próprio eixo e as costas ficam tortas de vez.

A primeira coisa que passa pela cabeça, ao ver a coluna nitidamente curvada para uma das laterais do corpo, é acusar a postura do menino ou da menina — o jeito como ele ou ela se larga no sofá para ver tevê, como carrega a mochila da escola de qualquer jeito, como fica pendurado no computador ou no celular… Ok, a postura errada tem realmente o seu papel, não podemos negar. Deve ser corrigida. Mas ela só faz esse estrago todo porque provavelmente existe uma tendência genética.

Diversos estudos apontam que, por trás da escoliose idiopática, existe uma herança poligênica, ou seja, envolvendo diversos genes. Um estudo espanhol diz que, nesse país, 33% dos jovens com escoliose têm parentes próximos com o mesmo desvio de coluna. Outros trabalhos apontam que, na população em geral, 28%.dos indivíduos com escoliose têm familiares na mesma situação.

Isso não significa que ter uma coluna assim é normal e ponto, que então não é preciso fazer nada. Longe disso. Em primeiro lugar, é preciso haver uma boa avaliação médica para checar a classificação da escoliose, fator determinante para se estabelecer o melhor tratamento. Um dos métodos de classificação —existem alguns — é medir o ângulo do desvio.

Quando esse desvio é de no máximo 20 graus, estamos diante de um caso em que podemos agir indicando exercícios de alongamento, fisioterapia e, claro, o acompanhamento de um ortopedista para avaliar os resultados e garantir que o quadro está estável . Essa, em princípio, é a grande meta: fazer com que a escoliose não avance. Porque, se a gente deixa, ela pode ir adiante e… A boa notícia é que os resultados do tratamento são muito melhores quando o paciente ainda é adolescente.

Se o desvio da coluna tem uma medida entre 20 graus e 50 graus, aí, além dos alongamentos e da fisioterapia, mais o acompanhamento médico, costuma ser necessário o uso do colete. E, claro, ele é uma tormenta para qualquer jovem. Dá para entender… Já aqueles desvios acima de 50 graus têm indicação cirúrgica, sem escapatória.

O bom, como sempre, é prevenir e nem deixar a situação chegar a esse ponto, impedindo a progressão do problema. Como? Ficando atento à coluna do seu filho ou da sua filha —na hora do banho quando eles são crianças, por exemplo, ou quando a menina está de biquini e o rapaz, sem camisa, vale observar bem o desenho das vértebras sob a pele. 

Alguns casos aparecem ainda na infância, antes até dos 3 anos —estes irão avançar ligeiro na puberdade se nada for feito. A escoliose juvenil, por sua vez, é aquela que surge entre os 3 e os 10 anos e, dessa idade em diante, que é —como já contei — a fase mais crítica, estamos diante de uma típica escoliose do adolescente.

A atenção deve ser maior nas meninas. Ninguém sabe com clareza o motivo, mas esse tipo de desvio é mais comum nelas. Existem nove garotas com escoliose para cada garoto com o mesmo problema.

Em matéria de tratamento fisioterápico, de acordo com os estudos, os profissionais envolvidos no tratamento devem escolher a estratégia ao lado da família. Mas tudo indica que, se bem orientada e feita com disciplina, a fisioterapia sempre funciona e é peça-chave para estancar o problema ou  minimizá-lo, não importando o método escolhido —se é RPG, cinesiologia, pilates, o que for…

O importante é tratar. Embora a escoliose idiopática quase nunca cause dores nos adolescentes, ela é uma semente de sofrimento futuro. Mais tarde, a pessoa fatalmente se queixará das costas. Aliás, poderá sentir dor no corpo inteiro, porque um desvio desses obriga outras partes a tentar compensá-lo. Daí, a pisada fica errada, as pernas também podem sofrer um desvio, um joelho pode trabalhar mais do que outro… 

Há relatos até mesmo de pessoas com dificuldades respiratórias porque, nesse mecanismo de compensação, o que era inicialmente um desvio de coluna acabou tirando as costelas de lugar. Já vi, inclusive, casos de jovens adultos com problema para praticar esporte por causa de uma escoliose que poderia ter sido resolvida de maneira simples, na hora certa. Isto é, na adolescência

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Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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