Os smartphones estão maltratando a postura dos jovens
Maurício de Souza Lima
12/06/2019 04h00
Crédito: iStock
As queixas de dores nas costas estão se tornando cada vez mais frequentes nos consultórios de médicos que atendem adolescentes. Há diversas possíveis causas. Afinal, a meninada nunca foi exemplo de boa postura — larga-se na cadeira, carrega mochilas pesadas demais para cima e para baixo, dorme com o corpo todo encolhido no sofá quando bate aquele sono fora de hora, por aí afora. Tudo isso, claro, acentua eventuais desvios na coluna. Mas o que chama a atenção da comunidade médica, inclusive em congressos internacionais da área, é o aumento de problemas na região cervical em relação às gerações passadas.
Para explicar o crescimento de casos de meninas e meninos que assumem um jeito quase corcunda durante o dia e depois sentem a tensão nos ombros e no pescoço no final da jornada, surge uma hipótese que vale investigar: o uso excessivo do celular teria boa parcela de responsabilidade nesse cenário.
De fato, os adolescentes vivem pendurados em seus aparelhinhos. Se observarmos a postura, ficam pendurados quase literalmente, com a cabeça sempre apontando para o próprio umbigo. E não ficam assim, projetando o pescoço para frente e fazendo a cervical suportar o peso da cabeça caída, por pouco tempo. Passam horas e horas desse jeito ao longo do dia.
Vale ressaltar: existem adultos que fazem a mesma coisa e que também devem chegar moídos à noite, com a região mais alta das costas toda dolorida. Mas a postura inadequada, difícil de evitar quando usamos os smartphones, provoca problemas especialmente durante o estirão do crescimento, quando parece moldar a coluna que se adapta a um corpo com uma nova estatura.
O que fragiliza ainda mais a situação é o fato de que as crianças de hoje não fazem as mesmas brincadeiras de antes. Quando se divertiam com pega-pega, subiam em árvore, pulavam corda, elas estavam fortalecendo a musculatura que ajuda a sustentar o tronco e que ampara a coluna. Hoje, os garotos entram na adolescência mais flácidos, por assim dizer. E, sem contar tanto com a sustentação dos músculos, a coluna vertebral pena mais. Não estou dizendo que os jovens apresentem problemas mais graves, como hérnias de disco. Mas começam, desde cedo, a sobrecarregar duas vértebras e, claro, isso terá um preço lá adiante na vida adulta.
A solução? Difícil nos dias atuais, quando o ideal seria maneirar no tempo de uso do celular. Se isso parece impraticável, os pais ao menos deveriam providenciar apoios e suportes capazes de deixar esses aparelhos mais altos na mesa de estudos de casa e procurar fazer com que o filho perceba que a musculatura cervical fica mais tensa quando ele passa horas olhando para baixo, com o celular na altura da barriga, como quase sempre ele fica. Esse exercício de percepção da própria postura pode ajudar.
Sobre o autor
Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clínico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.
Sobre o blog
Aqui, Maurício de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.