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Ainda é preciso dizer aos jovens que 'quem vê cara não vê coração nem DST'?

Maurício de Souza Lima

26/12/2018 04h00

Crédito: iStock

As doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids e a sífilis —cujo aumento de episódios entre adolescentes venho constatando no dia a dia—, nunca deixaram de ser uma preocupação. Mas durante muito tempo a gente bateu na tecla de que os adolescentes precisavam conhecer mais o assunto, saber das formas de transmissão, reconhecer os sinais, ter consciência de tudo o que cada doença dessas é capaz de fazer ao  seu organismo. Educação, educação, educação sobre sexo.

Não que isso tudo não seja válido. Mais do que válido, continua necessário.  Mas, de acordo com pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, no interior paulista, por maior que seja o conhecimento entre os jovens sobre as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), ele parece não ser forte o bastante para impulsionar o sexo seguro com o uso de camisinha. Não é doido isso?

Os cientistas acompanharam um grupo enorme de adolescentes entre 12 e 19 anos de idade, alunos de 13 escolas públicas e de cinco colégios privados da região. Assim, concluíram que, em geral, as meninas conheciam um pouco mais a respeito de ISTs do que os meninos. No entanto, se antes faziam mais questão de que os parceiros usassem camisinha — ao menos, costumam abrir mão com maior frequência da exigência do preservativo.

Vejam bem, os jovens não fazem isso porque acham que essas doenças não são sérias. Alguns, claro, até pensam desse jeito errado. A questão aqui é: uma ideia mais frequente entre a moçada, que parecia superada, é a de que, ao se apaixonar, você confia. E, ao confiar, você está certo de que aquela possa não pode lhe fazer mal algum. Portanto, não seria capaz de transmitir uma doença. 

Soa antigo, mas o trabalho é novo. E abre a brecha para uma reflexão importante em tempos nos quais muitos até questionam a necessidade da educação sexual. Precisamos não só falar de sexo, mas de amor e de relacionamento com esses meninos e meninas. E mostrar que sexo com responsabilidade é bom, sim. Só que responsabilidade é aquela consciência de que o mais legal dos caras e a mais legal das meninas pode ter (e transmitir) uma IST. É bom que voltem a separar as coisas, que não têm a ver umas com as outras. E a se cuidar sempre.

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Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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