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Grupo de amigos cria oportunidade do jovem se tornar resiliente

Maurício de Souza Lima

04/07/2018 04h00

Crédito: Istock

Todo adolescente precisa se sentir pertencendo a uma tribo. Isso é um fato. É natural, saudável e esperado um certo distanciamento progressivo da família nessa fase, porque, em alguns momentos, o jovem vai se identificar muito mais com o seu grupo de amigos — que, afinal, têm a mesma faixa de idade, as mesmas necessidades, os mesmos interesses e angústias — do que com os seus pais e até com os seus irmãos. Faz parte do amadurecimento. E essa também é uma excelente oportunidade para que ele desenvolva a resiliência.

Resiliência é um conceito emprestado da física: a propriedade de alguns materiais de acumularem energia e, na sequência, sem se romperem, voltarem ao seu estado original, como uma mola.  No mundo moderno, resiliência se tornou um termo também muito associado às reações ao estresse nosso de todo dia. Seria a capacidade de um indivíduo de viver uma situação desgastante emocionalmente e, depois, recuperar um estado sereno mais depressa. No entanto, quero chamar a atenção para outra conotação dessa palavra, que considero bem apropriada na adolescência: resiliência é, ainda, a nossa capacidade de, apesar de tudo e de todos ao redor, voltar aos nossos valores básicos.

É comum, para fazer parte de um grupo de colegas, que os adolescentes acatem todas as regras que aquela turma, aos poucos, vai criando, com maior ou menor consciência. Imitar comportamentos, reproduzir frases e ideias que escutam de bocas alheias com a maior convicção, como se saíssem de suas próprias cabeças. Em alguns casos, as famílias nem reconhecem mais aquele menino ou aquela menina, tamanha a diferença de atitude.

É claro que, às vezes, o garoto pode de fato concordar com aquilo que ouve. Em outras situações, porém, sua personalidade vai sendo diluída na do grupo. E aí é que entra a tal da resiliência: o adolescente deve encontrar uma forma de retomar o seu jeito único de ser, expressar o que realmente pensa, não abrir mão de seus valores essenciais como indivíduo só para ter amigos. 

Ninguém deve mudar o seu jeito e o seu pensar só para manter amizades— embora possamos aprender maneiras diferentes de ser e de agir com os amigos, algumas que nos tornam seres humanos, quem sabe, melhores. Mas o jovem deve notar que não precisa acatar o que os colegas falam sempre. Nem achar que o comportamento da maioria é o melhor para si invariavelmente. Isso, claro, parece lógico para um adulto, alguém maduro. Na adolescência, porém, com maior ou menor velocidade, é algo que vai sendo construído. E a convivência em grupo é um desafio.

Conforme o comportamento imitado, o preço que o adolescente irá pagar poderá ser alto — usar drogas, beber álcool, fumar, dirigir bêbado, simplesmente deixar de estudar para viver em baladas, entre uma série de exemplos. 

Outras atitudes, contudo, passam mais despercebidas e nem por isso deixam de ser importantes. Pode ser o caso de uma garota que quer vestir grife como suas amigas, sem que a família tenha condições financeiras para arcar com o capricho ou apoie uma atitude meramente consumista. Ou o caso de um rapaz que para de ler livros ou de fazer qualquer outra coisa com medo de ser rotulado de nerd. Existem, enfim, uma centena de situações frequentes, mais ou menos graves.

Aos pais? Aos pais cabe dar a lição aos filhos de uma estratégia que funciona na maioria das vezes: pensar antes de tomar qualquer atitude igual à do grupo. Em geral, pessoas menos resilientes primeiro agem e, depois, refletem. E, quando um jovem reflete sobre o que os amigos estão fazendo, antes de seguir com o mesmíssimo comportamento — seja ele qual for — está ganhando alguns bônus. Um deles é o de reforçar a sua personalidade com autoestima. Outro é se tornar mais tolerante, consigo e com os outros, entendendo que as pessoas podem ser bem diferentes dele. E, ainda assim, fazerem parte da sua turma.

 

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Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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