Adolescente não só pode como deve fazer musculação
Maurício de Souza Lima
21/03/2018 04h00
Crédito: iStock
Durante muito tempo se falou que a musculação atrapalharia o desenvolvimento nessa fase da vida. Isso já caiu por terra. Hoje em dia, a Academia Americana de Pediatria afirma que exercícios de resistência deveriam ser indicados para crianças, inclusive. É um assunto que abordo com muita frequência, até porque o tema do meu doutorado foi o exercício físico na adolescência.
Antigamente, antes mesmo de se tornar adolescente, a criançada praticava certas atividades que, embora não tivessem o nome de musculação, no fundo usavam o peso do próprio corpo para criar uma resistência ao movimento. Braços e pernas tinham de aguentar o menino enquanto ele escalava os galhos de uma árvore, por exemplo. E, na falta de árvore, existia o brinquedo de trepa-trepa em todo parquinho na rua ou na escola. A carga do próprio corpo era um desafio nessa e em outras brincadeiras infantis.
Agora, esses momentos andam em falta: a moçada fica só no videogame e no celular. Passa boa parte do tempo digitando. Os músculos, então, acabam não chegando tão bem desenvolvidos quanto antes na adolescência. É como se houvesse um déficit.
A grande preocupação das pessoas é a de que a musculação atrapalhe o crescimento. Isso não vai acontecer, desde que o jovem pratique o exercício da maneira correta.
A primeira coisa é ter muita clareza do objetivo nessa idade. A meta de um adolescente não pode ser ficar todo sarado e com barriga tanquinho. Ela é simplesmente manter a musculatura tonificada. Para isso, existem cálculos capazes de estabelecer a carga e o número de repetições de cada movimento. Daí que, óbvio, mais do que nunca, na adolescência a musculação precisa ser praticada sob supervisão. E o ideal é que seja um profissional com experiência nessa área.
Se o jovem frequenta uma academia, procure se informar se eles têm programas de musculação adequados para adolescentes, um sinal de que, ali, o professor provavelmente foi preparado para montar treinos para esse grupo.
Uma dica é a seguinte: o exercício com pesinhos feito de forma adequada na adolescência é aquele que não provoca a careta. Se você vê um menino ou uma menina mordendo os lábios, franzindo o cenho ou demonstrando o esforço de qualquer outro modo, aquilo está errado. E ponto. Sinal de que o halter é muito pesado, o equipamento foi regulado para uma carga alta demais ou o número de repetições está exagerado.
Outra coisa: o adolescente não pode sentir dor depois das sessões de treino, que eu recomendo que aconteçam duas vezes por semana na fase do estirão puberal, quando o crescimento acelera. A dor, no caso, indicaria mais do que excesso de exercício. Nessa idade, os músculos podem crescer em uma velocidade, enquanto ossos e tendões crescem em outra, o que por si é doloroso e pode piorar com um treino inadequado. O profissional precisa ficar de olho nisso, evitando até problemas posturais causados quando agravamos esse descompasso.
Sim, a musculação precisa de orientação. Mas isso não deve afastar a garotada dos treinos. Até porque os músculos fortalecidos se tornam verdadeiras torradeiras de gordura mesmo quando estão em repouso e isso ajuda a afastar a ameaça de obesidade. Para os adolescentes que desejam a hipertrofia, ela será liberada no momento em que passarem a crescer, no máximo, um centímetro por ano. Antes disso, não.
Finalmente, para ter músculos firmes e fortes, o adolescente também não precisa — nem deve — tomar nada nessa fase. Nenhum whey protein, nem algo parecido. O que ele precisa é de verdura, fruta, legume, arroz, feijão, carne… Se está preocupado com o corpo, melhor que gaste o dinheiro dele na feira do que na loja de suplementos.
Sobre o autor
Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clínico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.
Sobre o blog
Aqui, Maurício de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.