Quando crescer dói até nos ossos
Maurício de Souza Lima
07/03/2018 04h00
Crédito: iStock
Assim como pode acontecer na infância, naqueles períodos em que a criança parece dar uma espichada repentina, a dor do crescimento é capaz de atormentar os adolescentes em plena fase do estirão puberal, quando a estatura dá um salto.
Ela é provocada por um descompasso: os ossos crescem em um ritmo diferente do esticar dos seus tendões. Os músculos também têm o seu próprio tempo para aumentar de tamanho. E, quando o crescimento de um parece não seguir a mesma velocidade do crescimento de outro, o jovem pode se sentir moído.
Às vezes, o tormento é mais localizado. Por exemplo, é relativamente comum ver um garoto ou uma garota, na fase do estirão, reclamar de uma dorzinha chata logo abaixo dos joelhos. Isso porque o tendão que fica ali, ainda miúdo, acaba fazendo uma tração na tíbia, o osso comprido da canela, que por acaso ficou grandalhão primeiro. Então a pontinha dele, área que nós, médicos, chamamos de tuberosidade, pode até saltar para fora, marcando a pele da região. E essa tração, é evidente, dói um bocado.
A sensação dolorosa nas pernas ou em outro canto muitas vezes aparece assim do nada — embora seja mais comum depois da prática esportiva. Nessas horas, massagens leves e bolsas de gelo ajudam bastante. Antigamente, os médicos até afastavam o adolescente do esporte. Mas hoje a gente sabe que isso alivia pouco.
Também é ligeiramente mais frequente nos meninos. É que eles costumam ter um estirão mais acentuado. Aliás, esse é o ponto: a dor do crescimento não aflige aquele jovem, menino ou menina, que cresce devagar e sempre, mas o que ganhou, de uma hora para outra, alguns bons centímetros.
Ela pode se manifestar durante o dia ou à noite, não tem um horário certeiro, ao contrário do que alguns imaginam. Mas, atenção, dificilmente provoca um sofrimento tão grande a ponto de acordar alguém. Se o adolescente sempre desperta no meio da noite sentindo dor, leve-o para ser examinado pelo médico. Conselho, diga-se, que vale para outras dores. O sono deveria mascarar sensações dolorosas leves e moderadas, como seriam as do crescimento. Se alguém acorda berrando de incômodo, o problema provavelmente é outro e merece ser investigado.
Aliás, os pais não devem achar que toda queixa, nessa fase, tem a ver com um corpo que cresce ligeiro. Esse é um erro. Dores fortes, que não encontram alívio com facilidade, podem indicar encrenca.
E vale dizer que as legítimas dores do crescimento — que passam sozinhas quando o tamanho de todas as estruturas corporais volta a ficar harmonizado — não costumam ser acompanhadas de outros sintomas, como inchaços, hematomas e vermelhidão.
Por isso, repito, se o jovem vive reclamando ou se, mais do que dor, apresenta qualquer sinal diferente, não custa levá-lo ao clínico que, antes de cogitar o processo natural de crescimento, deve afastar todas as outras possíveis causas.
Sobre o autor
Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clínico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.
Sobre o blog
Aqui, Maurício de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.