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Blog do Maurício de Souza Lima

Que cuidados tomar em casa e em viagens quando seu filho tem alergia

Maurício de Souza Lima

19/09/2018 04h00

Crédito: iStock

Quem disse que na adolescência não podem aparecer alergias? Fique sabendo que, nessa fase, às vezes surgem reações alérgicas que nunca se manifestaram na infância. E, quando elas acontecem, é importante descobrir o que as estão provocando, tarefa que nem sempre é fácil na primeira crise. A investigação da causa é um trabalho de formiguinha que hoje, ao menos, conta com recursos como exames de sangue que mostram a sensibilidade daquele jovem para cerca de 100 substâncias alergênicas diferentes, apontando se ele seria muito sensível, sensível, pouco sensível ou se simplesmente não esboça qualquer reação diante de cada uma delas. Esse exame facilita o caminho para encontrarmos os principais suspeitos.

No entanto, já tive paciente que se machucou na escola e  que, lá mesmo, foi medicado. Eles lhe deram um remédio para aliviar a dor que tinha sido autorizado pelos pais, porque sempre foi usado na família sem causar nenhum transtorno. No caminho de casa, porém, esse menino começou a sentir muita dificuldade para respirar. Estava acontecendo o que nós, médicos, chamamos de edema de glote, isto é, quando a garganta incha por dentro, fechando a passagem do ar. 

O final dessa história é feliz: a mãe conseguiu levar a criança para um hospital, onde o garoto foi atendido depressa, tomando a medicação para reverter o quadro alérgico grave. E óbvio que, depois dessa, todos sabem que aquele menino não pode tomar esse medicamento para dor, já que é capaz de colocá-lo nesse apuro. No entanto, sempre fica a dúvida depois de um edema de glote: será que seu organismo reagiria de maneira tão violenta a outro alérgeno?  Por segurança, é indicado investigar.

Em situações assim, tão intensas, encontrar outros possíveis agentes capazes de causar alergias se torna uma missão ainda mais importante. E, em casos como o desse menino, é bom manter por perto uma caneta aplicadora de adrenalina. Ela já vem pronta, com a dose correta desse hormônio capaz de reverter o edema de glote. Se uma nova reação desse tipo começar, o  menino já sabe que deverá sacá-la da mochila, encostar a ponta na coxa, até mesmo por cima da roupa —ali, tem uma agulha bem fininha —  para então apertar o embolo, injetando imediatamente o conteúdo. Não se trata de uma dose alta. Ela apenas segura os sintomas, dando um tempo para que o paciente possa chegar em um serviço de saúde sem correr risco de vida.

Eu recomendo que um adolescente que já experimentou um edema de glote não se afaste de casa — por exemplo, naquele final de semana na fazenda de um amigo ou na excursão da escola — sem levar uma dessas canetas de adrenalina. 

No caso daqueles jovens que, por sorte, nunca passaram por uma alergia tão dramática, o certo é carregar o velho e bom anti-histamínico na bagagem. O antialérgico sempre deve estar por perto. Outros remédios, embora sejam úteis, podem esperar alguns minutos, até que alguém venha trazê-los para diminuir uma dor, aliviar uma tosse ou baixar uma febre, por exemplo . Mas as alergias, que podem surpreender em qualquer idade, às vezes exigem medidas rápidas. Então, repito: na falta de um estojo com vários medicamentos, o adolescente deveria carregar ao menos o bendito antialérgico em suas viagens, mesmo aqueles curtinhas, de final de semana. E, sobre a dosagem indicada e o tipo, vale conversar com o seu médico.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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