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Blog do Maurício de Souza Lima

A busca incessante de músculos definidos se torna frequente na adolescência

Maurício de Souza Lima

15/08/2018 04h00

crédito: iStock

O bíceps já está maior e a barriga, trincada. Mas a pessoa acha que está fraca, flácida e que precisa se esforçar muito mais nos treinos. Esse tipo de comportamento, a vigorexia, é outro distúrbio de imagem importante que acomete cada vez mais adolescentes. 

O problema não tem fim, porque o jovem nunca se dá por satisfeito. Primeiro, começa a reconhecer milimetricamente todos os ingredientes daquilo que come, o que em princípio parece saudável, até virar mania. Depois, ou paralelamente, apela cada vez mais para suplementos — e, na maioria das vezes, não faz muito sentido ele ingerir por meio deles, doses exageradas de proteína e de qualquer outro nutriente, por exemplo. 

O grande risco é que basta um outro degrau nessa escalada em busca do corpo mais do que perfeito para o jovem consumir esteroides anabolizantes. Eles certamente trazem um resultado maior para o crescimento muscular, é inegável. Porém, trazem uma série de contra-indicações importantes quando pensamos na saúde. Entre outras coisas, mexem com o funcionamento do fígado e, em casos extremos, podem levar a um câncer nesse órgão no futuro.

O problema, claro, está na cabeça e merece tratamento, muitas vezes reunindo o médico psiquiatra, que poderá lançar mão de medicamentos, e sessões com o psicólogo.

Mas, mesmo que não chegue a esse extremo — ou seja, mesmo que o adolescente não esteja com ideia fixa em determinados alimentos, suplementos, muito menos fazendo uso de anabolizantes —, os pais devem ficar atentos. Passar, todos os dias, três ou mais horas na academia pode ser sinal de desequilíbrio, conforme o caso. Claro que não existe uma régua medindo até que ponto malhar é saudável — vai depender de cada um, de cada organismo. Eu gosto de dar o seguinte parâmetro tanto aos pais quanto aos filhos: se, para ir à academia, o menino ou a menina está abrindo mão de outras atividades que seriam mais adequadas naquele momento, como estudar para provas, ou se esse é o seu único interesse de lazer, algo não está tão legal e merece ser examinado.

Fazer exercício é muito bom. Aliás, bastante necessário na adolescência. Só que o excesso sempre prejudica — até de água não é mesmo?. Não só favorece lesões, como esse exagero rouba um quantum de energia que, na fase da adolescência, pode fazer falta para um desenvolvimento pleno. E ele, nesse momento, é mais importante do que qualquer músculo saltado. Portanto, em resumo, a recomendação é seguir com uma dieta variada sem tantas neuras, não engolir suplementos sem a menor necessidade nem orientação, fugir dos anabolizantes,  procurar ajuda psicológica — ou até mesmo psiquiátrica, se for o caso — mas, antes de chegar a esse ponto, perceber quando a malhação está se tornando o maior, pra não dizer o único, interesse no dia a dia. Aí é hora de parar e refletir.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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