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Varicocele: as varizes no saco escrotal não podem ser ignoradas

Maurício de Souza Lima

26/06/2019 04h00

Crédito: iStock

Do nada, o menino começa a sentir uma leve dor no testículo. Geralmente ela é mais sentida no lado esquerdo do escroto, por razões anatômicas. E, como não é forte, apesar de piorar um pouco no final do dia ou depois da prática esportiva, ele vai levando. Muitas vezes nem reclama com os pais, nem comenta com os amigos. Mas aviso: não é normal alguém sentir que tem qualquer órgão no corpo. Órgãos saudáveis trabalham sem manifestar sintoma. Não doem sem razão. Nem a pessoa passa a sentir um leve peso em seu local, o que também é algo que os jovens com varicocele sentem. E é disso que estou falando: varicocele.

Trata-se de uma dilatação nas veias testiculares, feito varizes. Isso pode prejudicar o retorno do sangue e, daí, piorar a qualidade do sêmen, por falta de uma circulação adequada na região. Aliás, este é o ponto por que devemos prestar atenção: a varicocele nem sempre causa problemas. Mas, quando causa, o risco é o de abalar a fertilidade masculina. Esclareço, porém, que  essas varizes no saco escrotal não interferem na potência dos rapazes. Já na capacidade de gerar filhos… Sim, essa é uma ameaça em certos pacientes.

Se alguém falar que a causa da dilatação desses vasos foi uma bolada na infância, excesso de esporte, andar demais de bicicleta ou qualquer coisa assim, não leve a ferro e fogo a informação, porque há muita controvérsia nos trabalhos que chegam a esse tipo de conclusão. 

O fato é que ninguém sabe por que alguns garotos têm maior propensão ao problema. Geralmente são filhos de pais que também apresentaram varicocele na adolescência, faixa de idade que em que ela costuma aparecer — precisamente, entre os 15 e os 25 anos.

Muitas vezes essa dilatação é assintomática, sendo esse mais um motivo para a gente defender que o menino precisa fazer, claro, exames periódicos. E o médico deve examinar o estado do saco escrotal. O fato de não ter sintomas não significa que a circulação está sofrendo menos prejuízos.

Se o médico ouvir qualquer queixa, como a da tal dor, ou notar essas varizes, melhor ele pedir um ultrassom com doppler, exame de imagem que mostra como anda a circulação local. Se não for corretamente abastecido de sangue, os testículos poderão até mesmo atrofiar com o tempo.

Não é sempre, porém, que um vaso dilatado ou outro atrapalham de vez a circulação. Só quando isso acontece é que a cirurgia é recomendada para tirar os vasos que ficaram frouxos, estabelecendo de volta a força do fluxo sanguíneo e afastando a ameaça de infertilidade no futuro.

Finalmente, é bom esclarecer que a varicocele não provoca uma dor forte e aguda, que tem a ver com outro problema: a torção do testículo, quando ele gira em torno do próprio eixo. Aí, a dor é mesmo muito intensa e o inchaço, imediato. É preciso correr para a mesa de operação, sem perda de tempo. Se nada for feito entre  seis de doze horas, quando muito, o perigo de ocorrer uma necrose é grande. Então, o testículo precisa ser retirado. Mas essa situação, repito, nada tem a ver com a varicocele, um problema que merece acompanhamento, mas que pode ser bem leve.

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Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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