Blog do Maurício de Souza Lima http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br Aqui, Maurício de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Wed, 08 Apr 2020 07:00:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Nem todos os jovens estão se adaptando ao ensino a distância. E agora? http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/04/08/nem-todos-os-jovens-estao-se-adaptando-ao-ensino-a-distancia-e-agora/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/04/08/nem-todos-os-jovens-estao-se-adaptando-ao-ensino-a-distancia-e-agora/#respond Wed, 08 Apr 2020 07:00:40 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=826

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Os pais reclamam, os filhos reclamam também: não é todo adolescente que está acompanhando de boa as aulas no esquema de EaD, ou seja, de educação a distância, a saída encontrada nesse período de escolas fechadas e isolamento social. Essa dificuldade, embora possa ter a ver com outras questões — da eficiência da plataforma escolhida pelo colégio à velocidade da internet na casa de cada um —, também está relacionada com a capacidade de adaptação não só do jovem, mas de toda a família. Guarde bem isso.

É uma realidade: aquele garoto ou aquela garota que sempre achou difícil manter a concentração diante do professor pode estar penando ainda mais agora. E nem por qualquer problema grave: existem pessoas que são mais dispersivas por natureza. E para esses alunos, no momento, não temos as alternativas clássicas para contornar o problema. Você sabe quais são — pedir para se sentarem nas primeiras fileiras, afastar na sala aqueles colegas que costumam conversar demais durante a aula, proibir o celular…

Aliás, já deixo de cara uma dica aos desconcentrados: uma estratégia eficiente para que a atenção fique no aprendizado é tirar o celular de perto, como se houvesse um professor de olho que não permitiria o seu uso. Parece simples, soa até a bobagem, mas já ajuda bastante.

Sem esses recursos para evitar que a cabeça do adolescente vá para o mundo da lua em vez de ouvir e fazer tarefas com atenção durante as aulas a distância, a coisa só piora. E piora pra valer porque, frequentemente, o espaço que o adolescente encontra para estudar em casa é compartilhado. Seja o quarto com o irmão ou com a irmã — que precisa ter aulas pelo computador também — , seja a sala onde todos os confinados da casa transitam a caminho da cozinha ou do banheiro enquanto o adolescente está entre uma fórmula de física e uma regra da gramática. Difícil, inegavelmente difícil.

Dá para complicar? Dá. Complica quando a gente pensa que ninguém sabe, com precisão, quando esse cenário deixará de ser necessário. A incerteza — em uns mais e em outros menos — aumenta bastante a ansiedade. A ansiedade, por sua vez, diminui o foco. E, não raro, o adolescente ainda precisa lidar com uma série de frustrações muito específicas da faixa etária e do momento escolar.

A possibilidade de perder as férias de julho é uma delas. Nessa altura, para muitos já caiu a ficha — ainda bem! — que quarentena é diferente de sair de férias. É ficar em casa em vez de viajar com família e amigos ou de ficar na cidade, mas totalmente livre para ir a casa de amigos, cinema, balada, o que for. Quarentena não tem, nem de longe, a mesma graça.

Outros jovens, percebo, estão tensos porque estudavam para prestar algum vestibular no meio do ano — e agora se perguntam como fica todo o esforço dos últimos meses enquanto permaneceram debruçados sobre livros. Ninguém sabe dizer.… Aliás, ninguém sabe a resposta para centenas de questões, inclusive como ajudá-los a estudar a distância. E assim a situação vai se tornando um emaranhado complexo.

Aliás, mais um agravante seria justamente esse: os pais estão, compreensivelmente, inseguros também, sem um repertório de possíveis soluções. É tudo inédito. Tudo muito novo. Para todos. E observo que isso aumenta o estresse dos adolescentes.

Por mais que eles vivam desafiando os adultos, no fundo esperam que pais ou responsáveis tragam alguma resposta, sugestões de saída até para a tal dificuldade para estudar online — nem que seja para discordar da alternativa que lhes for apresentada. Só que, desta vez, nem isso está acontecendo. Se o jovem está perdido longe da escola, ele olha para o lado e encontra um adulto mais perdido ainda muitas vezes.

Jamais falaria para os pais fingirem uma segurança inexistente, jogando suas incertezas sob o tapete — entre elas, provavelmente, a de se os filhos conseguirão tirar proveito de uma educação a distância. Com todo mundo ansioso e estressado, a convivência fatalmente se torna uma tormenta. Em uma casa que, de alguma maneira, agora também é escola. E, de quebra, o escritório do pai ou da mãe. Ou dos dois.

Qual a saída? Estamos juntos nas incertezas. O que sugiro de prático, nessa travessia que temos adiante, é que todos realizem um movimento de adaptação. As pessoas não podem ficar passando no ambiente onde o adolescente está estudando naquelas horas de aulas ou lições, por exemplo. Não podem — e isso é sério. Do mesmo modo, os adultos devem estabelecer espaços de trabalho dentro da casa que precisam ser igualmente respeitados. Quando é o mesmo lugar para todos, então vale até criar uma agenda com os horários de ocupação de cada um.

E, ao lado do silêncio respeitoso quando o outro precisar se concentrar em uma tarefa, não poderemos nos esquecer da tolerância.

Ora, se escrevo tantas linhas é para que a gente possa parar um pouco e pensar que a família confinada sob o mesmo teto vive uma enorme angústia de adaptação — ao EaD ou, que seja, ao home-office. E minha única aposta é que se sairão melhor dessa etapa desafiadora de quarentena e coronavírus aqueles que conseguirem adaptar o seu dia a dia, porque uns não estão atrapalhando os demais.

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Jovens devem se vacinar o mais depressa possível contra a gripe http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/04/01/jovens-devem-se-vacinar-o-mais-depressa-possivel-contra-a-gripe/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/04/01/jovens-devem-se-vacinar-o-mais-depressa-possivel-contra-a-gripe/#respond Wed, 01 Apr 2020 07:00:35 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=817

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Esta é uma pergunta que, nos últimos dias, não paro de ouvir: será que devo vacinar o meu filho adolescente contra a gripe? Minha resposta é um sonoro sim. E ela não é diferente da que dei no passado, já que a vacina precisa ser repetida anualmente porque o vírus influenza, causador da doença,  sofre mutações a cada temporada. Mas entendo a dúvida que surge em um momento tão conturbado de distanciamento social, quando muitos têm medo de quebrar o confinamento — embora existam clínicas dando a vacina em esquema de drive thru —  e por incrível que pareça, mais ainda, quando muitos têm receio de experimentarem sintomas que associam à vacinação, como uma leve coriza alguns dias depois da aplicação.

Vou tentar explicar essa história por partes. Primeiro, vamos à dura realidade: a vacina da gripe por enquanto não se encontra disponível para adolescentes que dependem da rede pública para se imunizar. Por ora, o primeiro lote das 75 milhões de doses que serão oferecidas pelo governo é destinado a profissionais de saúde e idosos. Está certíssimo e o esforço do Ministério da Saúde é incrível ao antecipar a medida em relação aos anos anteriores.

No entanto, muita atenção: a partir de 16 de abril, a vacinação na rede pública será ampliada para pessoas com doenças que deixam o sujeito em maior risco para contrair ou ter formas mais severas da covid-19, como diabetes e hipertensão, entre outras. Adolescentes que têm esses problemas precisam correr para garantir esse direito. Reforço que essas doenças não têm idade. Infelizmente, até pela escalada da obesidade infantil, temos muitos adolescentes diabéticos e hipertensos.

O imunizante oferecido na rede pública confere proteção contra três cepas do influenza, enquanto o que se encontra com frequência em clínicas particulares de todo o país protege contra quatro. Ainda assim, a vacina aplicada pelo SUS é excelente. E o meu recado claro é este: seja a vacina trivalente ou a quadrivalente, os jovens devem tomá-la, sim. As famílias que tiverem condições devem procurar clínicas particulares para isso. E quem pretende se imunizar nos postos de saúde da rede pública deve esperar a primeira oportunidade, quando os grupos de risco já estiverem imunizados, para tentar conseguir a sua dose.

Ficar gripado nesse período difícil é a última coisa que alguém vai querer. Vale eu lembrar que 45% das internações por pneumonia no mundo são um agravamento da gripe — e, nesta época, internações ou não serão viáveis por falta de leitos hospitalares ou poderão colocar a pessoa em risco de covid-19. Só no Estado de São Paulo, em 2019, a gripe provocou  1.100 mortes — se as pessoas fugirem da vacina neste ano, será um caos. E este é um aviso para pessoas de todas as idades.

Claro que as mesmas medidas de higiene que usamos para espantar o coronavírus — lavar as mãos ensaboando-as por 20 segundos com capricho e passar álcool em gel com frequência, principalmente — também ajudam a prevenir o influenza, outro vírus que é transmitido com enorme facilidade se a gente não toma os devidos cuidados. E nesse sentido, aliás, o legado da pandemia atual de coronavírus será enorme. As pessoas finalmente ficaram espertas sobre como esses pequenos gestos no dia a dia, como reparar se as mãos estão limpas, lavá-las quase que automaticamente ao chegar da rua ou até da portaria do prédio, cobrir a boca com o cotovelo ao tossir e outras ações do gênero fazem enorme diferença. Antes, cá entre nós, ninguém dava muita bola, por mais que os profissionais de saúde batessem nessa tecla. Muito menos os adolescentes.

Sobre os sintomas que muitos alegam sentir quando se vacinam contra a gripe, não há razão cientificamente embasada para afirmar que são causados pelo imunizante. Mas — o que você talvez já tenha ouvido e vou repetir aqui — seu organismo demora uma semana aproximadamente para produzir anticorpos contra o vírus influenza e é possível que, nessa janela ou período de tempo, você pegue alguma infecção respiratória, como um resfriado ou a própria gripe, atribuindo o mal-estar à vacina injustamente.

Aliás, por falar em confusão, esse é outro grande motivo para os adolescentes receberem a vacina da gripe: desse modo, se manifestarem sintomas como febre, dor de garganta ou de cabeça, quebradeira pelo corpo e tosse, os médicos saberão que há grande probabilidade de ser covid-19, já que não existirá chance de ser mais um caso de gripe, se ele foi vacinado. E a Medicina não perderá tempo para cuidar do paciente adolescente, como às vezes ocorre.

Por fim, ao contrário do que imaginávamos no início da pandemia, os adolescentes estão longe de serem resistentes à covid-19. Embora a maioria dos infectados por coronavírus tenha mais de 50 anos, nos Estados Unidos, de acordo com o Centro de Diagnóstico e Prevenção de Doenças (CDC), jovens na faixa dos 20 anos já beiram 12% dos internados por causa da infecção. E observamos casos até de mortes de gente ainda mais jovem pelo mundo — meninos e meninas de 10, 12, 15 anos… Ressalto: nem todos tinham outras doenças ou complicações para justificar esse final infeliz de suas histórias. Não vamos mais tapar o sol com a peneira. No fundo, o perigo é para todos. Jovens incluídos.

Eu e outros colegas na minha área, atendendo adolescentes que receberam resultado positivo para a covid-19, observamos um aspecto traiçoeiro da doença nesse público: quando parece estar tudo bem, na reta final do quadro infeccioso, surge uma falta de ar. Não podemos dizer ainda se é uma sequela e quanto tempo vai durar. Noutro dia, uma paciente na faixa dos 20 anos me ligou com essa queixa. Já estava se sentindo praticamente boa quando o fôlego começou a falhar. A família — como tantas famílias de adolescentes — quis tranquilizar a garota, achando que era tudo psicológico. Pedi a prova dos 9 e a imagem dos pulmões tinha uma característica que nós, médicos, chamamos de vidro fosco. Esse aspecto denota uma pneumonia. Portanto, a falta de ar que apareceu só lá pelo décimo dia era real. E casos assim estão pipocando em consultórios de quem cuida de adolescentes em todos os cantos do planeta. Aqui  a situação não está diferente.

Aos jovens, fica o alerta: não dá para marcar bobeira. Não dá para relaxar nos hábitos de higiene como quem deixa a lição da escola para depois. Não dá para sair de casa — sinto muito, moçada. E, agora, acrescento: se possível, não é para perder o oportunidade de tomar a vacina da gripe.

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Os pais precisam reinventar sua autoridade em tempos de quarentena http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/25/os-pais-precisam-reinventar-sua-autoridade-em-tempos-de-quarentena/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/25/os-pais-precisam-reinventar-sua-autoridade-em-tempos-de-quarentena/#respond Wed, 25 Mar 2020 07:00:32 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=809

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Todo adolescente tem duas características, em maior ou menor grau: sensação de onipotência e de invulnerabilidade. Isto é, acha que pode fazer tudo e que sempre se dará bem, como se fosse eterno, acima de qualquer perigo. Não falo por opinião própria, embora observe isso no dia a dia do consultório. Há uma explicação da ciência: tem a ver com a falta de maturidade de uma área cerebral na altura da testa, chamada córtex pré-frontal.

Ela é a última a ficar “pronta”, por assim dizer, para a vida adulta. E é a responsável por uma capacidade que, sem dúvida, pessoas maduras têm — ou, quando não têm, não podemos acusar a sua massa cinzenta. Seria aquela de avaliar os riscos de uma situação e suas possíveis consequências.
Sem essa habilidade tão desenvolvida, alguns jovens podem não ter a real percepção dos riscos envolvendo uma simples saída em tempos de pandemia. Para muitos, é difícil enxergar qual o grande problema disso

Diante da necessidade de distanciamento social por causa do coronavírus, acredito que o córtex pré-frontal imaturo explicaria em boa parte as queixas que se tornam frequentes. Eu mesmo ando recebendo várias delas por meio da web e de mensagens do celular. Os meus pacientes nessa faixa de idade reclamam: “meu pai não entende e não deixa eu ir dormir na casa do meu amigo” ou, outro exemplo, “estou enlouquecendo porque minha mãe quer me trancar no apartamento enquanto todos os meus colegas estão na casa de fulano’. São sempre relatos assim, seguidos de argumentos como: eu não ficaria na rua e, sim, na casa de alguém; eu não estou indo para a balada lotada, mas para uma reunião com meia dúzia de carinhas da minha escola…

Noto que a ficha não caiu na cabeça de muitos jovens. Ok, na de muitos adultos também, mas, como especialista em saúde de adolescentes, vou focar apenas neles. E dizer que o confinamento é um teste para toda a família: chegou a hora todos se entenderem para a convivência não virar um inferno. E é também o momento para os pais segurarem as rédeas da educação com firmeza Pronto, já imagino: vão dizer que estou incentivando o autoritarismo. E não é nada disso. Apenas estou sendo franco, sabendo dos desafios que virão nessa temporada que ainda não tem data para terminar. Aliás, até essa incerteza aumenta a irritação dos adolescentes — quando voltarei a sair e a levar minha vida de sempre?

Nesse curto espaço do início da quarentena para cá, já vi pais assustados porque, com o filho em casa, descobriram que o rapaz fuma maconha — sim, a convivência trará à tona questões que todos precisarão discutir de um jeito ou de outro, das quais os adultos da casa nem desconfiavam ou faziam vista grossa. Na quarentena, prepare-se, dificilmente as coisas ficarão sob o tapete.

Também já vi adolescente acreditando em fake news, como uma informação falsa e perigosa que andou circulando por esses dias em grupos de jovens: a de que o éter seria capaz de matar o coronavírus. E — sem piada, aconteceu e é sério —, o menino resolveu fazer uma loló em casa. Claro, a história do éter matar o vírus não faz sentido. E aspirar a substância é extremamente danoso. Pior quando os pais se veem sem pulso para inibir esse tipo de atitude.

Em algum momento perdemos a autoridade, é um fato. E ela terá de ser reinventada em tempos de coronavírus. Não a autoridade à moda antiga, que dizia “faça assim porque quem manda aqui sou eu”. Ela nem adianta, não tem cabimento. Mas a autoridade de quem é respeitado, reconhecido por ser alguém mais experiente e, vamos combinar, capaz de fazer as vezes do tal córtex pré-frontal.

Por causa dessa falta de jeito dos adultos, observo o caldeirão fervendo em muitas famílias. Sugiro o remédio de sempre: abaixar a temperatura das discussões e o tom de voz por meio do diálogo. E diálogo implica em saber ouvir — no caso, saber ouvir o seu filho. Só assim o pai, a mãe, enfim, o responsável pelo jovem poderá devolver uma opinião e ser ouvido também.

Se um estiver nervoso, melhor engolir o sapo e deixar para conversar depois. Atritos mais fortes não ajudarão em nada. Você não vai convencer seu filho de que não é bom sair de casa os berros. Inútil. Simplesmente não vai. E nem adiantará proibi-lo de qualquer coisa — ouvi casos de jovens tentando escapar pela janela de casa. Dá de tudo nesses tempos…

Só quero dizer que existe um caminho entre dar de ombros — e colocar a vida de todos em risco — e partir para a briga em família. Precisamos — dificil, com todos com os nervos à flor da pele — colocar um pouco de afeto na história. Lembrar que o filho não é um irresponsável, sem consideração por todos — guarde na cabeça que o tal córtex pré-frontal não está maduro.
Diga não sempre que precisar, mas de maneira serena, mostrando as razões, ouvindo muito. Querentena é um tempo de colocar a razão na frente da emoção.

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Isolamento devido ao coronavírus não é férias: pais, fiquem atentos! http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/18/isolamento-devido-ao-coronavirus-nao-e-ferias-pais-fiquem-atentos/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/18/isolamento-devido-ao-coronavirus-nao-e-ferias-pais-fiquem-atentos/#respond Wed, 18 Mar 2020 07:00:29 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=801

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Por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus, você já sabe: a ordem é ficar em casa e diminuir ao máximo o contato presencial com outras pessoas. Por isso, escolas foram fechadas, faculdades também estão sem aula, shows e outros eventos acabaram adiados. Mas, sim, vamos admitir: a maioria dos adolescentes não apresenta sintomas ou, quando os apresenta, eles lembram os de um resfriado comum. E isso dificulta convencê-los do seguinte: nem por esse motivo eles estão deixando de transmitir o vírus para os outros, que podem não ter a mesma sorte. Para o pai, para uma vizinha, para o porteiro do prédio… Portanto, perigo!

Os pais devem ser firmes cobrando coerência e mostrando que não faz o menor sentido deixar de se expor aos colegas de sala de universidade ou de escola para se reunir com aquele grupo aparentemente pequeno de amigos, seja no bar ou na casa de um deles, seja um encontro de três ou quatro colegas que também estão sem aula ou uma festa com “apenas” uma dúzia de convidados — até coloco entre aspas esse “apenas” porque o número de contatos sociais nesse momento anda muito relativo. 

Ora, se o seu filho disser que irá encontrar duas ou três pessoas somente, como ninguém pode garantir o que elas fizeram na semana anterior e se cruzaram com alguém infectado, esse passeio já pode ser arriscado. Na verdade, o bom senso pede o máximo de isolamento social —e ponto. Não é agradável. Mas ele é a nossa arma para evitar o avanço da transmissão do coronavírus. E cada um que coloque a mão na consciência.

Mas de uma coisa tenho absoluta certeza: os pais devem ser ainda mais firmes impedindo que o adolescente faça visitas a quem tem mais de 80 anos. As complicações nessa faixa etária costumam ser seríssimas. Daí que, no contexto atual, é totalmente desnecessário visitar o avô ou a avó, por exemplo. Às vezes, os próprios mais velhos se queixam, fazem chantagem emocional. Vamos lembrar que existem alternativas: ensinar o idoso a se engajar em redes sociais, gravar vídeos, usar o Skype para matar a saudade dos netos ou até mesmo fazer as velhas e boas ligações telefônicas. O fato é que ninguém sabe como esse vírus poderá se espalhar na população mais idosa brasileira — se será igual ou pior do que estamos observando na Europa. Por isso, precisamos blindá-la e lembrar que os adolescentes podem levar o vírus em uma breve visita.

Outra recomendação importante —na verdade, importantíssima — é estabelecer horários de estudos como se os adolescentes continuassem indo para a escola ou para a faculdade. De preferência, os mesmos horários de antes, como se tivessem saído de casa para aprender. Alguns colégios estão oferecendo aulas online, mas sei que essa não é a realidade de boa parte dos jovens do país. Então, mais do que nunca, é preciso estabelecer uma rotina de estudos e garantir que ela seja executada. Especialmente no caso de adolescentes que irão, no final deste ano, prestar vestibular, porque naturalmente eles podem se ressentir mais dessa mudança drástica na forma de estudar por esses dias. Perder o foco, mais do que nunca, será perder matéria.

A falta de uma rotina pode levar a inúmeros problemas e não digo apenas escolares. O jovem pode continuar —como se ainda estivesse de fato de férias — se divertindo com joguinhos madrugada adentro. Será tentador. E na certa, então, perderá a hora para acordar. Consequentemente, almoçará tarde. Toda aquela adaptação aos horários da volta às aulas irá para o brejo. O sono será o primeiro a ser prejudicado. Preocupante. Primeiro porque isso tira o funcionamento do organismo do prumo em tempos nos quais todos precisam se manter fortes. Segundo porque um dia — omara que não demore tanto — isso vai acabar e será novamente aquele drama para o adolescente se ajustar aos horários.

A alimentação, no isolamento, tende a sair do equilíbrio. O jovem pode beliscar tranqueiras o dia inteiro em vez de consumir comida de verdade, caseira, no momento certo das refeições. De novo, como se estivesse de folga de obrigações, naquele espírito de que “nas férias tudo pode”. Um desafio, portanto, é manter essas refeições com muita disciplina no mesmo horário de sempre e não encher a despensa de guloseimas. Vamos ser francos: bom para pessoas de qualquer idade não tê-las sempre ao alcance, porque pode, sim, bater um tédio e aumentar a ansiedade, com seus ataques de gula. 

Aliás, penso que não é de todo improvável, se a situação se estender —em princípio seriam duas semanas, mas quem garante? —, que o adolescente ganhe peso. E todos da casa também. Fácil isso acontecer, se a gente lembrar que existem indivíduos que ganham alguns quilos quando estão de férias, não é mesmo? Mas aí é que está, volto à estaca zero: não são férias.

Por falar em peso, outra questão é estimular a atividade física mesmo dentro em casa. Não dá para ficar esse tempão parado. O ideal seria o adolescente encontrar maneiras de fazer exercícios, nem que seja seguindo treinos online. E, de novo, só para reforçar: mantendo os horários de refeições, de sono e de estudo, comer mais do que nunca alimentos saudáveis e naturais, até pela questão imunidade. 

E já que, no caso de quem tem funcionários ajudando nas tarefas domésticas, eles vêm sendo dispensados —  o que é muito justo —, aproveite para, nessa nova rotina que tenta ser normal em dias anormais, fazer uma divisão dos afazeres da casa, sem deixar os adolescentes de fora.

O isolamento, enfim, pode ser uma excelente oportunidade para um jovem aprender a se organizar, a ter mais foco, a colaborar com o dia a dia da família e a perceber uma lição que outros indivíduos vêm aprendendo um tanto tardiamente: nossas atitudes podem impactar a saúde de toda a sociedade, para não dizer de toda a humanidade.

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Faça exames em vez de presumir que o jovem tem intolerância à lactose http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/11/faca-exames-em-vez-de-presumir-que-o-jovem-tem-intolerancia-a-lactose/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/11/faca-exames-em-vez-de-presumir-que-o-jovem-tem-intolerancia-a-lactose/#respond Wed, 11 Mar 2020 07:00:28 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=791

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Dores de barriga, inchaço abdominal, diarreia —estes são sinais clássicos de um problema muito comentado nos últimos tempos, a intolerância à lactose. E, quando esse distúrbio existe pra valer, podem surgir ainda náuseas, crises de vômito, azia, dores de cabeça… Sim, o dia a dia pode ficar infernal. Mas aí é que está: os mesmos sintomas costumam aparecer em outros problemas digestivos e a gente precisa ter cautela em vez de tirar conclusões precipitadas. Em outras palavras, a gente precisa pedir exames para confirmar se é mesmo mais um caso de intolerância à lactose.

Eu, particularmente, sempre que possível indico que o paciente faça de cara um teste genético simples, por meio do sangue, para saber se ele, em primeiro lugar, tem de fato uma predisposição a esse problema. E a gente sabe que muitas pessoas, mesmo tendo a lactase normal —enzima digestiva encarregada de quebrar a lactose, o açúcar do leite, e de seus derivados — podem de fato ser mais sensíveis a esse alimento. 

Na adolescência, isso merece cuidado por vários motivos. Um deles é que a capacidade de digerir a lactose tende a se reduzir ao longo dos anos. Se já aparece cedo… Idealmente a intolerância nem deveria existir na adolescência, embora ocorra. Isso porque é uma fase em que o consumo de laticínios é importante, por serem grandes fornecedores de cálcio, para formar no esqueleto uma espécie de reserva ou poupança desse mineral que, com certeza, será muito bem aproveitada pelo restante da vida.

Bom eu lembrar que intolerância não é alergia —reação do sistema imunológico a uma proteína do leite. Quem é alérgico não pode tomar uma gota da bebida sem passar mal. Já com o intolerante a coisa é diferente. Ele pode consumir uma determinada quantidade sem sentir nada. Mas, ao ultrapassar a barreira da dose de que seu organismo dá conta —a qual varia muito de indivíduo para indivíduo — , vai sentir o mal-estar. 

Médico e paciente precisam, então, encontrar essa porção que seria bem aceita pelo organismo. Sou contra cortar os laticínios de vez por causa da intolerância, o que só piora o quadro —não apenas pelas questões nutricionais, já que o cálcio faz uma falta danada, mas porque, sem ser exposto à lactose, o organismo vai deixando cada vez mais de produzir a enzima para dar conta dela. E a intolerância se agrava. Lembrando que a tendência é só piorar com a idade…

Existem alternativas. Os iogurtes, por exemplo, têm cerca de 1/4 da lactose do leite, se compararmos a mesma porção. É uma opção. Os queijos também têm menos lactose por natureza —e quanto mais curados, menos ainda. Por último, além de os supermercados oferecerem uma gama de laticínios sem lactose, sempre existe a alternativa de o adolescente engolir cápsulas da enzima lactase para completar o que seu organismo já não produz.

Outra orientação que costumo dar é para o adolescente nunca consumir leite e seus derivados de estômago vazio, o que contribui para a sensação de ficar estufado. Aliás, a dica de ouro é consumir leite sempre com frutas e cereais. Explico: as fibras, além de facilitarem o trânsito no intestino, diminuem o risco de cólicas, caso fique sobrando ali um pouco de lactose não digerida.

Fundamental, como eu já disse, é fazer exames para entender se existe mesmo uma predisposição a essa dificuldade digestiva, em vez de sair tirando laticínios do cardápio à toa.

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Escoliose da coluna costuma ser herança de família e deve ser tratada http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/04/escoliose-da-coluna-costuma-ser-heranca-de-familia-e-deve-ser-tratada/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/03/04/escoliose-da-coluna-costuma-ser-heranca-de-familia-e-deve-ser-tratada/#respond Wed, 04 Mar 2020 07:00:30 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=786

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Na semana passada, como a moçada saiu para o Carnaval com o corpo mais exposto, a imagem era nítida: o maior bloco nas ruas foi o da escoliose! Brincadeira à parte, a escoliose idiopática, isto é, de causa desconhecida, é um problema bastante comum na adolescência. Até 15% dos jovens vão apresentá-la.

Embora o problema possa aparecer em qualquer idade, o estirão da puberdade é um momento crítico. No auge do crescimento, a coluna vertebral pode se desviar para um dos lados e, mais do que isso, costuma haver um desvio rotacional também. Ou seja, para completar, as vértebras ainda giram em torno do próprio eixo e as costas ficam tortas de vez.

A primeira coisa que passa pela cabeça, ao ver a coluna nitidamente curvada para uma das laterais do corpo, é acusar a postura do menino ou da menina — o jeito como ele ou ela se larga no sofá para ver tevê, como carrega a mochila da escola de qualquer jeito, como fica pendurado no computador ou no celular… Ok, a postura errada tem realmente o seu papel, não podemos negar. Deve ser corrigida. Mas ela só faz esse estrago todo porque provavelmente existe uma tendência genética.

Diversos estudos apontam que, por trás da escoliose idiopática, existe uma herança poligênica, ou seja, envolvendo diversos genes. Um estudo espanhol diz que, nesse país, 33% dos jovens com escoliose têm parentes próximos com o mesmo desvio de coluna. Outros trabalhos apontam que, na população em geral, 28%.dos indivíduos com escoliose têm familiares na mesma situação.

Isso não significa que ter uma coluna assim é normal e ponto, que então não é preciso fazer nada. Longe disso. Em primeiro lugar, é preciso haver uma boa avaliação médica para checar a classificação da escoliose, fator determinante para se estabelecer o melhor tratamento. Um dos métodos de classificação —existem alguns — é medir o ângulo do desvio.

Quando esse desvio é de no máximo 20 graus, estamos diante de um caso em que podemos agir indicando exercícios de alongamento, fisioterapia e, claro, o acompanhamento de um ortopedista para avaliar os resultados e garantir que o quadro está estável . Essa, em princípio, é a grande meta: fazer com que a escoliose não avance. Porque, se a gente deixa, ela pode ir adiante e… A boa notícia é que os resultados do tratamento são muito melhores quando o paciente ainda é adolescente.

Se o desvio da coluna tem uma medida entre 20 graus e 50 graus, aí, além dos alongamentos e da fisioterapia, mais o acompanhamento médico, costuma ser necessário o uso do colete. E, claro, ele é uma tormenta para qualquer jovem. Dá para entender… Já aqueles desvios acima de 50 graus têm indicação cirúrgica, sem escapatória.

O bom, como sempre, é prevenir e nem deixar a situação chegar a esse ponto, impedindo a progressão do problema. Como? Ficando atento à coluna do seu filho ou da sua filha —na hora do banho quando eles são crianças, por exemplo, ou quando a menina está de biquini e o rapaz, sem camisa, vale observar bem o desenho das vértebras sob a pele. 

Alguns casos aparecem ainda na infância, antes até dos 3 anos —estes irão avançar ligeiro na puberdade se nada for feito. A escoliose juvenil, por sua vez, é aquela que surge entre os 3 e os 10 anos e, dessa idade em diante, que é —como já contei — a fase mais crítica, estamos diante de uma típica escoliose do adolescente.

A atenção deve ser maior nas meninas. Ninguém sabe com clareza o motivo, mas esse tipo de desvio é mais comum nelas. Existem nove garotas com escoliose para cada garoto com o mesmo problema.

Em matéria de tratamento fisioterápico, de acordo com os estudos, os profissionais envolvidos no tratamento devem escolher a estratégia ao lado da família. Mas tudo indica que, se bem orientada e feita com disciplina, a fisioterapia sempre funciona e é peça-chave para estancar o problema ou  minimizá-lo, não importando o método escolhido —se é RPG, cinesiologia, pilates, o que for…

O importante é tratar. Embora a escoliose idiopática quase nunca cause dores nos adolescentes, ela é uma semente de sofrimento futuro. Mais tarde, a pessoa fatalmente se queixará das costas. Aliás, poderá sentir dor no corpo inteiro, porque um desvio desses obriga outras partes a tentar compensá-lo. Daí, a pisada fica errada, as pernas também podem sofrer um desvio, um joelho pode trabalhar mais do que outro… 

Há relatos até mesmo de pessoas com dificuldades respiratórias porque, nesse mecanismo de compensação, o que era inicialmente um desvio de coluna acabou tirando as costelas de lugar. Já vi, inclusive, casos de jovens adultos com problema para praticar esporte por causa de uma escoliose que poderia ter sido resolvida de maneira simples, na hora certa. Isto é, na adolescência

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O que fazer quando o adolescente escolher se tornar um gamer profissional http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/26/o-que-fazer-quando-o-adolescente-escolher-se-tornar-um-gamer-profissional/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/26/o-que-fazer-quando-o-adolescente-escolher-se-tornar-um-gamer-profissional/#respond Wed, 26 Feb 2020 07:00:05 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=779

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Acho que precisamos olhar para algumas questões com outra cabeça, um pouco mais aberta. Noutro dia, ouvi um pai preocupado porque o filho queria ser gamer profissional. Sim, existem jovens que viajam pelo mundo inteiro, ganham dinheiro e até patrocínio se dedicando a campeonatos de games. Não que seja fácil. Aliás, muito pelo contrário, porque chegar a esse ponto de conseguir se sustentar é realmente passar um funil estreito. Precisamos reconhecer: se é essa a decisão, será preciso treinar com disciplina.

O fato é que os tempos são outros —e eles são digitais, incluindo possibilidades muito diferentes daquelas a que estamos acostumados. Não vou aqui discutir o futuro da juventude, nem o direito —que me parece óbvio — de um adolescente fazer a escolha do caminho que deseja seguir na carreira. Mas como agir quando aparece uma situação dessas em casa?

A primeira coisa a ser riscada é a palavra proibição, se querem saber o que penso. Não só porque implicaria em tolher a liberdade de escolha profissional, mas até porque esse tipo de atitude seria de uma completa inutilidade. Seria um veto fácil demais de ser burlado. 

Ora, parece claro que menino ou a menina sairá à tarde para ir à casa de amigos e chegando lá… vai jogar. Acordará no meio da noite quando os pais estarão no sétimo sono e… jogará. Será que a solução seria tirar o console, a tevê, tirar tudo? Impedir o filho ou a filha de usar o computador da casa? Esconder o tablet? Como será se o adolescente ficar sem o celular também? Garanto: seria um inferno para todos sob o mesmo teto. Não tem jeito. Ou melhor, tem jeito: conversar e estabelecer rotinas.

Se o garoto ou a garota quer se dedicar ao universo dos games, a família então precisa levar isso a sério —fazendo o jovem levar a sério também, claro — e não como desculpa para mais tempo de diversão. Aproveitando, está aí uma lição que podemos e devemos dar aos adolescentes: seguirem firmes em seus propósitos de futuro, uma vez declarados. Nessa situação específica, então, todos devem encarar a ideia de se tornar um gamer como quem treina um esporte ou outra habilidade profissional qualquer.

O fundamental, porém, é decidirem juntos um horário para que esses treinos aconteçam todo dia, sem que atrapalhem os estudos nem outras obrigações, que podem ser até triviais, como sentar-se à mesa nas refeições, fazer programas em família, arrumar o quarto, ajudar os pais em tarefas domésticas.   

Isso é importante: o adolescente entender que não dá para trocar uma coisa por outra. 

A velha história de fazer acordos e estabelecer limites claros, tão discutida no período da infância, não muda com a chegada da adolescência. Aliás, creio que, no exercício da convivência, ela seja válida para a vida inteira. No caso de alguém com pretensão a se tornar um gamer, isso se torna primordial. Até porque esses jogos são tão envolventes que passar do tempo combinado, por exemplo, é fácil.

Se a vontade de se profissionalizar é realmente levada a sério pelo jovem e apoiada pela família, na medida da possibilidade —e, eu sei, nem sempre é viável —, vale investir não só em computadores e provedores de internet mais potentes, como em cadeiras mais ergonômicas, que evitem problemas de postura comuns nos adolescentes que ficam horas jogando. Assim como providenciar protetores de tela para proteger a visão. Por falar nisso, também é importante que o jovem dedicado aos games faça avaliações oftamológicas de rotina, sem jamais adiar essas consultas —assim como a coluna, os olhos se tornam pontos frágeis.

O horário de praticar games também deve ser considerado no estabelecimento de uma agenda: não é bom que se reserve as noites para jogar, já que a luminosidade da tela afeta diretamente o ciclo do sono e vigília no sistema nervoso central. O adolescente que joga demais depois do anoitecer termina com problemas para dormir, isso é fato.

Agora, sempre me questionam a respeito das habilidades desenvolvidas pelos games. E, sim, precisamos reconhecê-las —sem o preconceito de achar que esses jogos são de todo ruins. Primeiro, eles estimulam a criatividade, sendo que há vários estudos demonstrando isso. E ainda, dizem alguns trabalhos, aumentam a facilidade do indivíduo para atuar em equipe, algo muito desejável e até mesmo buscado por universidades e empresas. 

Portanto, vamos respirar fundo e lembrar que o mundo digital ganha força. Claro que algumas informações que busquei passar aqui podem ajudar em outras situações —inclusive a do adolescente que não sonha em ser gamer profissional, mas que simplesmente gosta da atividade como lazer. Diálogo, respeito, cuidado com a saúde, estabelecimento de limites e horários são sempre bem-vindos.

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Não precisa de muita nicotina para alterar o cérebro de um adolescente http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/nao-precisa-muita-nicotina-para-ela-alterar-o-cerebro-de-um-adolescente/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/nao-precisa-muita-nicotina-para-ela-alterar-o-cerebro-de-um-adolescente/#respond Wed, 19 Feb 2020 07:00:33 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=771

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Dois estudos recentes sobre o tabagismo me chamam a atenção. Um deles, realizado pelo biomédico Paulo Roberto Xavier Tomaz na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) demonstra que determinadas variantes genéticas —que nós chamamos de polimorfismos — podem favorecer demais a dependência à nicotina. 

Ou seja, quem tem os genes CHRNA 2, 3 ou 5, por exemplo, não precisa fumar muito, nem com tanta frequência para se ver totalmente enredado na vontade incontrolável de acender mais um cigarro. Essa bagagem genética também dificulta bastante as coisas quando o indivíduo decide largar o vício.

A constatação de existir uma dependência genética, por assim dizer, poderá ajustar no futuro as estratégias de prevenção — afinal, devemos ficar ainda mais de olho em quem carrega esses polimorfismos — e até mesmo o tratamento do tabagismo. Se interromper essa dependência nunca é fácil, a missão passa a ser complicadíssima quando encontramos esses genes. 

Mas, do meu lado, como hebiatra ou médico especializado em adolescentes, acho interessante a gente notar que isso derruba argumentos que ouvimos com frequência dos jovens —aqueles na linha do “só fumo quando vou à balada” ou “nunca fumo, só peço um cigarro ao meu amigo se estamos tomando uma cerveja”. Ouvir esse tipo de coisa, essa garantia de que o cigarro quase nunca é aceso, soa tranquilizador para muitos pais. Só que isso pode ser um grande equívoco. A gente nunca sabe quem carrega um gene CHRNA 2, por exemplo.

Nem vale, então, um garoto ou garota se comparar ao amigo que, de fato, consegue fumar só de vez em quando. Com ele ou com ela, por razões genéticas, a história poderá ser completamente diferente. Simplesmente experimentar o poder nicotina talvez já seja o suficiente para que ela mostre suas garras. E elas são poderosas mesmo. Até para fazer estragos.

Isso tem a ver com o outro trabalho que mencionei no início. Ele foi publicado no volume 4 da Revista de Biologia Psiquiátrica. O estudo acompanhou jovens de apenas 14 anos que, infelizmente, já estavam começando a fumar, ainda que tragassem muito pouco. Eles passaram por exames de ressonância magnética para checar a imagem do cérebro, testes de personalidade e, também, neuropsicológicos. Essa bateria foi repetida dois anos mais tarde, quando eles completaram 16 anos.

O que se notou na segunda leva de exames foi o seguinte: a anatomia cerebral de todos os jovens estava alterada em três regiões, isto é, no córtex pré-frontal envolvido com a tomada de decisões, em uma área chamada ventromedial e, ainda, os pesquisadores encontraram diferenças no chamado corpo caloso, estrutura que divide os dois hemisférios da massa cinzenta.

Vale eu repetir: essas alterações não apareciam antes, quando a garotada mal tinha começado a fumar. E o mais assustador: elas apareceram até mesmo quando a exposição à nicotina era muito, muito baixa. Ou seja, até aquele adolescente que fuma só de vez em quando termina com a anatomia da sua massa cinzenta completamente modificada.

Ninguém sabe quais são as repercussões futuras dessas alterações que, nos exames, ficam muito claras. Mas certamente existirão repercussões. Sabemos que não se mexe com a anatomia do cérebro —com o formato e o tamanho de suas regiões ou estruturas — sem que isso cause algum prejuízo. Isso ainda será avaliado. Por enquanto já basta saber que não precisa fumar muito para alguém ficar viciado, nem para sofrer as consequências na cabeça.

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Jovens, existe vida após o Carnaval: exagerar na folia pode trazer doenças http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/12/jovens-existe-vida-apos-o-carnaval-exagerar-na-folia-pode-trazer-doencas/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/12/jovens-existe-vida-apos-o-carnaval-exagerar-na-folia-pode-trazer-doencas/#respond Wed, 12 Feb 2020 07:00:31 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=765

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Parece que o mundo vai acabar na Quarta-Feira de Cinzas. Até lá, o organismo precisa enfrentar quatro, cinco, seis dias de uma maratona exaustiva. Ora, ele mal dorme, porque é festa noite e dia. Aceita como refeição qualquer lanche vendido na rua, quando muito, e ingere seja lá o que for completamente fora do horário habitual de comer. Ao mesmo tempo, gasta uma energia danada, porque não para de se movimentar atrás da bateria, do bloco, do trio. Isso não é para qualquer um —mesmo que esse indivíduo seja um adolescente, aparentemente cheio de ânimo.

A falta de energia suficiente fornecida pela dieta somada ao relógio biológico desregulado pela quebra dos horários para se alimentar e ir para a cama e, ainda, à ação dos hormônios do estresse liberados em doses extras porque não se dormiu o bastante, tudo isso atrapalha o sistema imunológico. Inevitavelmente. Deixa de ficar de prontidão. Dorme, ele sim, no ponto diante de uma infecção oportunista qualquer. Aliás, são muitas as infecções que costumam se aproveitar da folia. 

A gripe causada pelo vírus influenza é uma delas, embora não seja exatamente a época do seu apogeu entre nós, brasileiros. Os resfriados, provocados por uma série de outros vírus, são bem mais comuns. Não podemos deixar de lado, também, o risco de uma mononucleose, a famosa doença do beijo, que faz a garganta arder e o corpo ficar tomado de manchas vermelhas. Em alguns pacientes o mal-estar chega a durar mais de dez dias.

Há, aliás, um aspecto bem curioso a respeito da mononucleose: depois que alguém pega essa infecção, ele nunca mais se livra do vírus causador, que pode ficar morando na amígdala, por exemplo, e de tempos em tempos infectar outras pessoas, mesmo quando não provoca sintomas. Existe ainda uma alta probabilidade de um rotavírus agir no Carnaval e ele causa desarranjos intestinais terríveis. Essas infecções, creio, são as principais ameaças da festança de fevereiro. Mas a lista é sem fim.

Nos dias atuais, com tudo o que está acontecendo na China, as pessoas estão falando muito no coronavírus —elas se perguntam se ele vai ou não vai tirar proveito do vacilo imunológico do nosso Carnaval. Acho difícil. As autoridades sanitárias do Brasil já estão tomando todas as precauções necessárias. Mas isso não quer dizer que os foliões chegarão intactos ao fim da festa. 

No mínimo, podemos esperar por muitas dores de garganta, já que essa área fica mais exposta e costuma ser uma das primeiras a se ressentir da queda da imunidade, como se as amígdalas fossem armadilhas aos invasores. E, óbvio, se essa dor não passar depois de dois ou três dias, melhor procurar um médico para ver do que se trata e até afastar a hipótese de uma bactéria ter entrado na jogada pela brecha carnavalesca, merecendo ser combatida com antibióticos vendidos com prescrição.

O clima do Carnaval, propriamente dito, também não ajuda em nada. E não só pelo aglomerado de gente, pelo contato físico, pela troca de beijos e saliva. O sol costuma bater na testa sem trégua. E, se chove e esfria a temperatura ambiente do nada, a situação até piora para o sistema imune, já colocado à prova demais para dar conta de oscilações no termômetro. O calor tem ainda outro efeito que não afeta diretamente as células de defesa, mas que atrapalha o bem-estar: a desidratação. 

A perda de líquidos acontece em parte pelo suor e  em parte é provocada pelo consumo de álcool —lembre-se, toda bebida alcoólica desidrata. Às vezes, a desidratação associada ao esforço físico, à falta de sono e, claro, ao calor do nosso verão faz a pressão arterial despencar. E, daí, pode acontecer do jovem desmaiar. Claro, melhor chamar por socorro nessas horas, até para se certificar se foi um episódio de pressão baixa mesmo. Pode ser algo mais grave… Mas, quando é o caso, o melhor a fazer —orientem seus filhos — é deixar a pessoa deitada e, se possível, até erguer ligeiramente suas pernas. O desmaio é uma defesa para garantir que o sangue, sem a pressão adequada, consiga subir à cabeça para irrigar o órgão vital que é o cérebro.

Óbvio, o melhor mesmo é nunca perder os sentidos. Mas essa possibilidade aumenta na mesma medida em que a desidratação avança. E ela ainda pode ser agravada pelo consumo frequente de energéticos. Sim, cheios de cafeína, as tais bebidas energéticas também fazer o corpo perder muita água e, pior, mascaram o cansaço — aliás, são engolidas exatamente por isso, não é mesmo? Mas mascarar, como o próprio verbo indica, é tapar o sol com o peneira. O esgotamento físico, por menos que seja percebido, continuará a crescer, debilitando mais e mais o organismo. E assim voltamos ao sistema imunológico…

O que fazer? Perder o Carnaval parece não ser opção para os adolescentes que gostam de sair no bloco e querem curtir cada dia de festa… Cada dia? Cada dia mesmo? O ideal, se me perguntarem, seria escolher um deles para o descanso ou preservar as noites para acordar renovado e vestir a fantasia na manhã seguinte. O corpo precisa de tempo. Repito: é esforço demais.

Para quem acha que aguenta, fazer refeições leves antes de sair é obrigatório, incluindo sucos, vegetais e frutas, além de fontes de carboidrato para dar mais energia. Repor líquido é inegociável, diria fundamental. Não abusar do álcool, nem do energético, até para ter a possibilidade de sentir a própria fadiga. E, claro, respeitá-la. Há vida depois do Carnaval e é bom estar firme e forte para também aproveitá-la.

Em tempo: com imunidade firme e forte ou não, todos devem usar camisinha sempre, sempre, sempre na hora do sexo. As infecções sexualmente transmissíveis continuam por aí, de fevereiro a fevereiro, e nunca estão para brincadeira.

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O mau hábito da automedicação surge cedo, em plena adolescência http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/o-mau-habito-da-automedicacao-surge-cedo-em-plena-adolescencia/ http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/o-mau-habito-da-automedicacao-surge-cedo-em-plena-adolescencia/#respond Wed, 05 Feb 2020 07:00:41 +0000 http://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br/?p=759

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Um artigo publicado recentemente na Revista Brasileira Interdisciplinar de Saúde fala sobre o uso indiscriminado de medicamentos por estudantes da Faculdade JK, no Distrito Federal, e da Universidade de Brasília. A prática é frequente e tem consequências variadas, de gastrite a problemas mais sérios.

Mas, cá entre nós, acho que o resultado seria semelhante em qualquer estabelecimento de ensino do país: os jovens fazem uso rotineiro de medicamentos que consideram simples ou inofensivos, como anti-inflamatórios não esteroides para controlar dores, sem ouvir o seu médico. Ibuprofeno e dipirona foram os mais citados no estudo realizado com os estudantes de Brasília. Quase 23% deles faziam uso de uma dessas  medicações semanalmente.

A automedicação no país é mesmo um caso sério. Veja bem, segundo o Conselho Federal de Farmácia, 77% dos brasileiros acima dos 16 anos  —16 anos apenas! — se automedicam pelo menos uma vez por mês e 25% têm a mania de engolir remédio por conta própria uma vez por semana. Confirmar com mais um estudo, como esse que eu li, que o mau hábito começa cedo deveria despertar algumas boas reflexões.

Usado da maneira errada, qualquer remédio pode ser desastroso. O alerta vale até mesmo para aquele comprimido que o jovem engole para supostamente curar a ressaca da festa —e as festas são frequentes, bem como as ressacas — ou para aliviar o peso da barriga depois de ter devorado um hambúrguer duplo no intervalo da aula ou para, pior, tentar se manter mais acordado e mais esperto enquanto faz provas e lições. 

Nem vou entrar no mérito desse tipo de atitude de se medicar para bombar o desempenho acadêmico e, sim, lembrar de um exemplo bem mais simples: antitérmicos tomados como se fossem água, quando os adolescentes notam a testa ficando quente. Ignoram que esses remédios podem mascarar problemas mais sérios. Assim como o xarope para tosse pode esconder os primeiros sinais de uma pneumonia. É sempre um perigo fingir que nada está acontecendo.

Com mal-estar físico empurrado pelo medicamento para debaixo do tapete, os pais — e os próprios jovens, claro — só percebem que há algo errado, como uma doença chegando, quando  o mal avança além do desejável. Isso sem contar aquelas reações adversas do próprio uso de medicamentos em exagero. No começo, essas reações podem se assemelhar à azia, mexer com intestino e provocar uma diarreia ou outra. 

Em casos mais graves, porém, levam até à perda de sangue pelas fezes. No entanto, como não se trata de sangue vivo, como o que escorre vermelho de uma hemorroida, e sim de coágulos secos, as fezes apenas ficam mais escurecidas e o quadro costuma passar batido, enquanto o adolescente se torna vítima de úlceras gástricas ou intestinais pelo excesso de medicações no dia a dia.

Nessa fase pós-férias, recebo muitos casos de garotos e garotas que tiveram algum problema durante viagens. Aí pergunto: “O que você fez?”. Escuto que tomaram um remédio assim ou assado. Não, não me procuraram antes. E, pior, com frequência descubro que repetem a dose com frequência em seu dia a dia. Acham que jovens como eles não sofrem as consequências disso. Ou que as medicações são leves — e, de fato, podem até parecer leves a curto prazo. A longo, nem sempre.

Isso me faz pensar que eu e meus colegas médicos deveríamos falar mais sobre o assunto e cortar o mal da automedicação pela raiz, conversando com os pacientes adolescentes. Mas, claro, para isso precisamos do apoio também dos adultos da casa que, infelizmente, muitas vezes são os primeiros a dar o exemplo de engolir a primeira coisa que encontram na farmacinha doméstica ou, pior, são os que prescrevem remédios aos filhos, achando que tudo bem.

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