O aumento de jovens usando opioides é preocupante, inclusive aqui no Brasil
O consumo de substâncias opioides, como analgésicos potentes feito a morfina e a metadona — que já foram feitos a partir da mesma flor de papoula da qual se extraía a heroína e que hoje são sintéticos —, dispara pra valer no Brasil. Nada contra o uso bem indicado para tratar a dor indomável de algumas doenças, como em quadros avançados de um câncer. Aliás, essa classe de medicamentos é recomendada pela Organização Mundial da Saúde justamente para a dor oncológica.
No entanto, sem uma necessidade médica clara — que mesmo assim envolve dezenas de cuidados e ponderações entre os profissionais de saúde —, estamos falando apenas em risco. E em risco sério. Pesquisa da Fiocruz aponta que 4 milhões de brasileiros já fizeram uso ilegal de algum opiáceo, ou seja, consumiu a substância sem qualquer indicação do médico. Isso é mais que suficiente para tocar o alarme.
No organismo, os opioides fazem as vezes das endorfinas, neurotransmissores cerebrais associados à sensação de prazer. Por isso, seu primeiro efeito é uma euforia. Mas o problema é que, para viciar, é um só pulinho: estudos apontam que basta você usar opioides por três dias para já criar dependência. Claro, existem os mais fortes e os mais fracos nas prateleiras das farmácias. Mas são sempre opioides.
A sensação de que está tudo bem, obrigado, chega ligeiro quando se usa uma substância dessas. E dura horas a fio — daí o consumo de espalhar feito água. Os jovens, infelizmente, têm acesso fácil. Como a heroína da mesma família, os opioides encontrados por eles até na internet podem ser injetados na veia ou inalados, em vez de simplesmente engolidos. Vou dizer: opioides já são um risco por si só. Mas o que a moçada compra, por ser feito em fundo de quintal, nem temos controle do que realmente existe ali dentro! É encrenca na certa. Como mencionei, há notícias de que os adolescentes conseguem comprar essas drogas até mesmo por e-commerce…
Além da euforia e da felicidade perene, os usuários podem experimentar alívio de dores físicas, claro, e uma sensação de amortecimento, interpretada como um leve torpor — aí, é como se a vida ficasse literalmente mais leve. Como quando se usa drogas feito a cocaína e a anfetamina — igualmente perigosas, mas pertencentes a outro grupo —, podemos observar uma considerável dilatação nas pupilas após o consumo de opioides. Ela é uma pista. A luz incomoda bastante, inclusive.
Os jovens também, não raro, apresentam amnésia, esquecendo-se de boa parte do que aconteceu enquanto durou o efeito dessas substâncias. Mas uma das ações mais importantes acontece nos vasos sanguíneos, que ficam relaxados — logo, a pressão cai. Se a reação é mais intensa, a pessoa até desmaia. E creio que nem preciso dizer que, conforme o caso, a pressão arterial despenca de um modo fatal.
No entanto, essa não é a única ameaça à vida: um artigo recente, que saiu no New England Journal of Medicina, aponta uma maior taxa de suicídios entre os viciados em opioides. A hipótese é que, ao sumirem os efeitos que levam à sensação de alegria, o tombo é enorme — entre uma dose e outra, o jovem pode ser vítima de uma tristeza funda e fazer bobagem. Estamos longe do cenário americano, onde essas substâncias já mataram centenas de milhares de pessoas dependentes químicas delas. Mas não podemos marcar bobeira, até porque aqui, tudo indica, o consumo pode começar mais cedo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.