O que fazer quando se descobre que o adolescente tem diabetes
Segundo dados do ano passado, no Brasil, mais de 31 mil crianças e adolescentes entre 0 e 14 anos de idade têm o diabetes tipo 1 — a forma na doença em que, por algum motivo não bem esclarecido, o próprio sistema imunológico do paciente destrói completamente as células beta do pâncreas, que seriam as produtoras do hormônio insulina, essencial para retirar o açúcar da circulação e fazê-lo entrar nas células do corpo. Estamos, portanto, no terceiro lugar do ranking mundial de diabetes tipo 1 na criançada, atrás apenas da Índia e dos Estados Unidos.
Vale eu lembrar que 80% dos diagnósticos dessa forma de diabetes são realizados nessa faixa de idade. E o que chama a atenção: nos últimos tempos, focando o período de 2010 em diante, a descoberta da doença se tornou mais frequente na moçadinha entre os 10 e os 14 anos de idade. Isso é diferente do que acontecia lá pelos anos 1990, quando a maior parte dos casos surgia antes dos 4 anos. Não me pergunte — ninguém tem essa resposta — por que razão o diabetes tipo 1 está surgindo mais tardiamente.
Ao mesmo tempo, quando olhamos para o tipo 2 da doença, antes associado a um paciente bem mais velho, para nosso espanto o número de casos também vem aumentando bastante entre os adolescentes. E esse é aquele diabetes extremamente relacionado com o sobrepeso e com a obesidade, em especial quando os quilos extras estão lado a lado com o sedentarismo. O cenário é preocupante: em 2045, a projeção é de que 1 em cada 11 jovens brasileiros terá diabetes. E, não à toa, o fato é que esse virou assunto frequente quando se fala em saúde na adolescência. Um assunto, diga-se, bem importante. Mas muito se fala de exercício, de dieta, de insulina e remédios… Acho que existem outros aspectos que merecem igual destaque.
A descoberta dessa doença costuma ser um enorme abalo para a família. E vou dizer que ainda mais quando se trata do tipo 1, porque muitas vezes não há indivíduos com o problema na mesma família, nem qualquer pista de fatores de risco — é sempre uma tremenda surpresa. Há uma interrupção na rotina da casa. Além do compreensível medo do desconhecido, existe uma questão real, concreta: todos precisam se adaptar, ajustar hábitos, incluir novos horários e novas rotinas para controlar a glicemia do menino ou da menina, ainda mais se ele for praticamente um bebê.
Já cansei de ver pais nessa situação que mesclam um estado de indignação — por que foi acontecer justo com eles? — e culpa, aliás, muita culpa. Fazem as associações mais loucas. Acham que o diabetes tipo 1 apareceu porque trabalharam demais ou fizeram algo de errado, quando não é nada disso. Ninguém conhece bem as suas causas.
Se é um caso de diabetes tipo 2 na adolescência, sem querer deixar ninguém se sentindo pior por isso, até precisamos analisar ainda com mais afinco os hábitos de toda a casa, que de alguma maneira criou um ambiente favorável à obesidade. No entanto, não é correndo atrás de culpados ou algozes que vamos garantir saúde e qualidade de vida para o jovem. Nem paz de espírito para os pais, os irmãos e quem estiver por perto. Por isso, quando falam desse assunto — e quando o paciente não é um adulto bem criado —, minha primeira sugestão é buscar ajuda. Não, não para o paciente apenas. Para a família inteira. No meu modo de ver, nos casos mais bem sucedidos de controle do diabetes na infância e na adolescência, todos os familiares receberam apoio e orientação.
O segundo passo é envolver a escola, esclarecendo colegas e professores — explicando a doença, os seus tipos, o que fazer para ajudar a aluna ou o aluno com diabetes em uma situação de emergência, por aí afora. A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) realizou ações nesse sentido em diversos colégios entre 2014 e 2015, com mais de 10 mil estudantes adolescentes participantes. Mas isso seria apenas o começo. Torço para que retomem a iniciativa e, aliás, recomendo o site da SBD para quem busca uma série de dicas sobre o tratamento correto no dia a dia.
Todas essas informações valem ouro. Afinal, só posso dizer que, se seguidas direito deixando o diabetes bem controlado, o crescimento e o desenvolvimento físico dos jovens com essa condição de saúde poderá ser absolutamente normal. O que mais me preocupa nessa são mesmo os aspectos comportamentais e psicológicos. Ora, adolescentes gostam, melhor, precisam pra valer sentir um vínculo forte com o grupo de amigos. E, caso ninguém cuide da cabeça do garoto com diabetes, ele poderá se sentir com uma identidade diferente da dos colegas. Logo, mais isolado. Vou dizer: adolescência e isolamento não combinam de jeito algum, pensando em saúde de um ponto de vista mais global. O prejuízo que isso poderá acarretar não se mede no sangue. E acho que, diante dos números de crescimento da doença nessa faixa etária, esse lado da história não pode ficar de fora.
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