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Blog do Maurício de Souza Lima

O que fazer quando o adolescente começa a roncar?

Maurício de Souza Lima

31/07/2019 04h00

Crédito: iStock

A barulheira noturna, antes associada a senhores barrigudos de meia-idade, anda começando mais cedo: hoje em dia, muitos jovens descobrem que estão roncando. Se não é o irmão ou a irmã que dorme no mesmo quarto, são os amigos que avisam do problema, rindo ou até reclamando pra valer, quando ele dorme fora de casa.

O crescimento da obesidade na adolescência é uma das explicações para o ronco, ao estreitar o trajeto do ar pelo acúmulo de gordura na região do pescoço. Esse ar, então, abre passagem para entrar ou pede licença para sair de um jeito ruidoso, fazendo vibrar todos os tecidos das vias aéreas superiores.

Mas existem mais possíveis causas. Entre elas, as rinites e outras alergias respiratórias que também provocam esse estreitamento dos caminhos pelos quais o ar passa. Também é um fator por trás do ronco aquela mania de dormir de boca aberta, que desarranja os tecidos no interior do pescoço, favorecendo a sua vibração.

Os pais , é fato, nem sempre escutam o filho roncar. Mas podem desconfiar do problema e abrir bem as orelhas durante a madrugada se por acaso o garoto vive bocejando e cansado, como se nunca tivesse dormido direito, apresentando uma diminuição da atenção e do rendimento escolar.

Eu sei, eu sei: quando se trata de um adolescente, pode existir uma série de outras razões para o menino ou a menina não ter um bom sono, o que despertaria os mesmos sinais. No entanto, sempre vale checar se não é caso de ronco. Porque, se o problema não for tratado, só irá piorar com o avançar dos anos, quando a musculatura facial ficará naturalmente mais flácida. Ou seja, se já começou cedo, onde irá parar?

O pior nem é o barulho, por mais infernal que ele soe, mas as minúsculas interrupções da respiração que acompanham o ruído. Essas mini-paradas respiratórias, chamadas de apneia, estão por trás até mesmo de um aumento no risco de doença cardiovascular mais tarde.

Se, ao entrar no quarto do seu filho adormecido, você notar que está o maior silêncio, ainda assim cheque se ele está respirando pelo nariz ou pela boca. Respiradores bucais — sim, aqueles que costumam dormir de boca aberta — tendem a roncar no meio da noite e provavelmente isso acontece quando você está no sétimo sono também.

Uma polissonografia — exame que flagra os distúrbios do sono — pode ser o melhor tira-teima para confirmar a suspeita e apontar as possíveis causas do ronco noturno. Adianto: se o seu filho ou filha está acima do peso, perder alguns quilos será essencial para melhorar a qualidade do descanso e silenciar o barulho das madrugadas.

Muitas vezes, vale procurar ainda a ajuda de um profissional da área da fonoaudiologia, que orientará exercícios apropriados para fortalecer a musculatura do pescoço e das vias aéreas superiores. Em certos casos, também entra em cena o ortodontista. Afinal, alguns jovens dormem de boca aberta por algum problema de oclusão que precisará ser corrigido com a ajuda de aparelho.

E, claro, tudo piora se houver uma tendência genética a roncar. Mas é importante não se conformar com essa herança familiar, na linha tal-pai-tal-filho, e procurar reestabelecer o silêncio, especialmente por causa daquelas paradas respiratórias que já mencionei. Roncar não tem nada de engraçadinho. E não é por ser um problema que as pessoas imaginem ser de adultos e até mesmo de idosos que dá para esperar para resolvê-lo lá adiante. Nada disso. Adolescente que ronca precisa de tratamento.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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