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Blog do Maurício de Souza Lima

Qual o problema de viver com fones de ouvido? Nenhum, se cuidar do volume

Universa

01/05/2019 04h00

Crédito: iStock

Eu ousaria dizer que os jovens de hoje estão viciados em barulho. Não, não pense que eu me refiro a um estilo de música. Falo em barulho ao pé da letra, a um volume muito mais alto do que os ouvidos humanos poderiam suportar sem traumas que, se forem se acumulando, levarão à perda de audição no futuro.

Quando os adolescentes reclamam do som de uma festa —ao menos, é o que noto —, muitas vezes não se referem à seleção do DJ e, sim, ao som que, se não estiver em uma potência máxima, acaba sendo criticado.

Para uns, já acostumados, o som nas alturas, especialmente o grave, dá prazer. A música por si só, claro, se for do gosto do ouvinte, já mexe com neurotransmissores do bem-estar. Mas a famosa batida provoca uma vibração, ao pé da letra, no corpo inteiro. E o problema é que essa vibração, embora sutil, é mais percebida quanto mais alto o volume.

Está provado que os ouvidos suportam, no máximo, oito horas de um som acima de 85 decibéis sem acumular danos graves— se bem que podem existir indivíduos até mais sensíveis. Se o som da balada está em 110 decibéis — e estudos acusam que muitas festas alcançam essa marca na maior facilidade —, o certo seria ficar ali apenas 15 minutos. Ok, seria certo, mas muito pouco provável que o adolescente largue mão de se divertir.

Mas talvez você esteja pensando: e os fones de ouvido com isso? Respondo que têm tudo a ver. Com eles, a moçada aumenta o volume para escutar música sem medo de ser feliz — quero dizer, de ser feliz e, quem sabe, um pouco surda com o passar dos anos. Os fones transportam o volume das baladas para qualquer lugar.

O ideal seria nunca ultrapassar a tal marca de 85 decibéis e, de preferência, escutar seja lá o que for com seus fones de ouvido em um volume até mais baixo, de no máximo 60 decibéis. Com frequência, claro, não é isso o que acontece. Os jovens ficam com os fones em tudo o quanto é canto — na escola, no trabalho, no metrô, pelas ruas, em casa, no carro. E, desse jeito, permanecem ouvindo a música berrar por mais do que as oito horas que seriam o limite.

Antes, era mais fácil perceber quando esse tipo de situação estava acontecendo: o som "vazava" do acessório, por assim dizer. Hoje, com novas tecnologias, muitas vezes a pessoa está escutando algo na maior altura sem que os outros, ao seu redor, desconfiem. Então, meu recado: pais, não insistam no parâmetro de o som vazar ou não vazar. O fato de a gente não escutar nada já não é indicador de que o som saindo pelos fones está em um volume adequado.

Minha melhor dica é a seguinte: existem bons aplicativos que, uma vez baixados, acusam o volume a que os ouvidos estão sendo expostos com o uso dos famosos foninhos, inclusive. Eu sugiro que os adolescentes tratem de usar esses apps.

Outro problema é mais difícil de contornar, por incrível que pareça; é quando o menino ou a menina entra na carro, você pergunta alguma coisa e fica, como eles dizem, "no vácuo". Aí o jeito é negociar. Pedir que, no trajeto da escola, por exemplo, os fones sejam guardados para que aquele momento seja o de uma boa conversa em tom normal

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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