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Blog do Maurício de Souza Lima

Onde já se viu fumar vitamina e energético? Entenda os problemas disso

Maurício de Souza Lima

10/04/2019 04h00

Crédito: iStock

Trabalhar com adolescentes é ver algumas ondas subirem —e eles, infelizmente, "surfam" sem questionar na maioria delas. A última é a de fumar vitamina. Pois é, agora tem isso também. Vitaminas formuladas especialmente para vaporizadores, virando modinha em encontros da moçada.

Os jovens acham que é divertido. Acham mais: que não faz mal algum, porque  afinal ali não há nicotina, nem se trata de outro tipo de droga. Ao contrário, "poxa, é vitamina!" Mas, ao meu ver, fumar vitamina pode ser, para começo de conversa,  uma perigosa porta de entrada para o hábito do tabagismo entre aqueles que (ainda bem) ainda estão longe do cigarro. 

Afinal, o menino ou a menina adquire a mania de tragar alguma coisa sempre que se sente mais ansioso. Ou, ao contrário, quando está de boa com os amigos, em uma situação qualquer de risadas e pura alegria. Ou seja,  esses vaporizadores todos criam sem querer — isto é, se a indústria do tabaco, lá no fundo, não estiver por trás — um gatilho comportamental que não pode ser menosprezado.  E enganoso, porque há um rótulo de "saudável" no imaginário das pessoas. Um rótulo que, do ponto de vista da Medicina, é bem questionável. No mínimo, penso, é um pulinho para o tabaco. Mas, pior, talvez não seja só isso.

Pulmões, eu garanto, não gostam de fumaça de nenhum tipo. E este é um bom ponto. Quem inventou a moda de injetar vitaminas ou até mesmo inalá-las afirma que esses meios favorecem a absorção dessas substâncias. Bobagem. Vitaminas sempre foram bem absorvidas pelo aparelho digestivo — às vezes, umas competindo ligeiramente com outros componentes de uma mesma refeição, mas sem perdas assim tão significativas para justificar o disparate de sair tragando uma B12 ou uma dose de vitamina C.

Aliás, outra tendência triste, aterrissando aos poucos por aqui: fumar energéticos. Sempre é a mesma desculpa, ou seja, favorecer a absorção e tornar o consumo mais eficaz. Algum sentido faz: o pulmão entrega ligeiro qualquer substância para a circulação sanguínea. No entanto, ninguém faz a menor — atenção, a menor — ideia do que isso provocaria nas delicadas células pulmonares a médio ou longo prazo. Não há estudos. 

Pode até ser que, apesar do nome  e da função original — vitamina —, uma integrante do famoso complexo B prove, amanhã ou depois, ser capaz de provocar tantos danos quanto a nicotina. Porque, repito, as células pulmonares são bem sensíveis. Foram criadas para entrar em contato apenas com o ar puro. E, coitadas, já suportam baforadas dos mais diversos poluentes na atmosfera dos centros urbanos. Para que pirraçá-las mais?

Nenhum cientista sabe os efeitos com o passar dos anos, se há risco de esses jovens terem um câncer ou não na vida adulta por causa de mais uma onda. O mesmo vale para aromatizantes e outras bobagens que eles — por ironia, muitas vezes aqueles que querem justamente se manter longe do cigarro – deram para respirar. 

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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