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Blog do Maurício de Souza Lima

O cálculo do IMC no adolescente é diferente e aponta o risco de hipertensão

Maurício de Souza Lima

30/01/2019 04h00

Crédito: iStock

Recentemente, a Universidade de Chicago (EUA) publicou um estudo sobre hipertensão na adolescência — sim, esse problema, antes associado a pessoas adultas e, se duvidar, com mais idade, hoje é muito frequente nos jovens. Pois bem, os pesquisadores americanos acompanharam ao longo de dois anos nada menos do que 1.800 meninos e meninas, checando de tempos em tempos as suas medidas, o seu peso e a sua pressão arterial.

A constatação foi de que existe uma correlação entre a pressão e o índice de massa corporal (IMC) dos jovens. Isto é, conforme o IMC aumenta, a pressão arterial tende a subir. Não existe aí uma grande surpresa, ao meu ver. A obesidade é um dos principais fatores por trás da hipertensão em qualquer idade. Mas o achado do estudo americano não deixa de ser um argumento a mais para a gente combater dois males que vêm castigando a saúde da moçada, mostrando que eles andam de mãos dadas. E aqui faço algumas observações.

A primeira delas é que a hipertensão não é menos grave na juventude. Alguns fantasiam que tudo bem, que é algo que poderá ser corrigido ou tratado mais tarde. Mas as consequências, no mínimo, são as mesmas daquelas em adultos: a pressão acima do normal vai prejudicando o sistema cardiovascular até que um dia ele manifesta problemas. Claro, por dedução, costuma ser um tanto pior quando os estragos começam cedo.

Aos poucos, disparada na adolescência, a pressão alta sobrecarrega o coração e pode chegar ao ponto de, lá adiante, ele sofrer uma hipertrofia. Não é legal como soa: um coração hipertrofiado não costuma ser forte; ao contrário, em geral não tem força o suficiente para dar suas batidas. Nos olhos, os vasos da retina deixam de abastecê-la direito de sangue e o resultado é o aparecimento precoce de problemas capazes de levar à perda de visão a longo prazo. Os rins também sofrem e, no futuro, podem apresentar a fatura do seu esforço para trabalhar. Nada pode terminar muito bem nessa história.

A segunda observação, voltando ao estudo de Chicago, é que os pesquisadores notaram que boa parte dos adolescentes nunca tinha aferido a sua pressão arterial. Garanto: aqui, no Brasil, não é diferente. No entanto, medir a pressão arterial de um jovem é importantíssimo em qualquer consulta. Fique esperto para que o médico não deixe de examiná-la, especialmente se o adolescente está acima do peso, porque aí a chance de a pressão ter saído do prumo é mais elevada.

Uma terceira observação importantíssima para você: o IMC de um adolescente não pode ser calculado como o de um adulto. Nunca. No caso, esqueça aquela fórmula divulgada em sites e revistas — a de pegar  o peso em quilos e simplesmente dividi-lo  pela altura ao quadrado. Com os adolescentes não funciona assim. Apague. O cálculo do IMC na adolescência é complexo, por isso os médicos precisam lançar mão de uma tabela que considera, além do peso e da altura, a idade e se é um garoto ou uma garota

Para ter uma ideia, um adulto cujo resultado do cálculo é de 20 a 25 terá um IMC normal. Ele só será uma pessoa com sobrepeso com um IMC acima dessa faixa. No entanto, uma menina de 12 anos com IMC de 22 já é diagnosticada com sobrepeso e talvez já não tenha uma medida de pressão arterial saudável. Mais um motivo — ou dois! — para buscar orientação profissional ao notar que o adolescente está mais rechonchudo. 

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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