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Blog do Maurício de Souza Lima

O perigo por trás da sede incontrolável causada pelo MD e drogas do gênero

Maurício de Souza Lima

18/07/2018 04h00

Crédito: Istock

Ecstasy, MDMA ou simplesmente MD, também apelidada pelos jovens de Michael Douglas — são substâncias que provocam muita sede e aí pode morar mais um de seus perigos.  A realidade é que esses estimulantes do grupo das metanfetaminas, apesar de danosos e proibidos, são consumidos cada vez mais cedo, em uma quantidade considerável e com uma frequência maior do que no passado. A promessa, como todos sabem, é aumentar a disposição da moçada nas baladas que duram até o amanhecer. E um dos efeitos colaterais menos comentados é a chamada intoxicação hídrica.

É mais comum associar o uso do ecstasy e companhia à tal sensação de energia. O adolescente não consegue permanecer com o corpo quieto e até fica "mordido". Essa é a expressão que muitos utilizam, aliás, porque, sob o efeito dessas drogas, certas pessoas ficam o tempo inteiro mordendo os lábios, que podem terminar machucados. Outros arrumam a saída de chupar um pirulito, justamente para evitar as mordiscadas quase involuntárias. As pupilas, dilatadas, às vezes tornam a luz insuportável também — o que alguns compensam com óculos escuros.

O tato acaba muito excitado e qualquer abraço já produz um prazer e tanto. Por isso o  ecstasy leva a fama de droga do amor. Mas estimulantes como ele também agem na região cerebral do hipotálamo, aumentando incrivelmente a temperatura do corpo. Então, a reação do organismo é disparar uma tremenda sede. O jovem não resiste à ideia de beber água, de preferência gelada. Ou até, quem sabe, chupar gelo.

Alguns locais chegam a fechar as torneiras do banheiro para que os usuários sejam obrigados a comprar por muitos reais as garrafinhas de água mineral. E, nessas condições, o usuário tende a pagar qualquer preço para matar a sede cada vez mais intensa. O problema é que, totalmente sem percepção, completamente dominado pela vontade desenfreada de consumir líquidos, ele pode exagerar — e, em excesso, até a água faz bastante mal. Ao coração, diga-se de passagem.

A questão é que o músculo cardíaco bate graças a um mecanismo que chamamos de bomba de sódio e potássio. Ou seja, precisamos desses dois minerais em equilíbrio para que os batimentos sejam normais. Só que volume excessivo de água, ao ser eliminado, leva junto esses dois minerais. Aí é que está…

A falta de sódio ou de potássio no organismo, provocando um desequilíbrio entre os dois, leva a uma leve taquicardia em um primeiro momento. No entanto, alguns garotos e garotas chegam a apresentar arritmias severas, que precisam de pronto-atendimento. É quando o coração perde o ritmo de vez, ameaçando uma parada. Acredite: já vi jovens que chegaram a beber 8, 9, 10 litros de água em uma única balada depois de terem consumido estimulantes desse tipo.  Se nada é feito, um quadro de intoxicação hídrica pode ser fatal.

Um aviso: o adolescente que não se iluda. Quando eu, médico, prescrevo 500 miligramas de uma substância para tratar determinado problema, tenho certeza de que ali, naquele comprimido, não tem nem 450, nem 550 miligramas — mas os exatos 500 que indiquei. O mesmo não se pode dizer de um comprimido de ecstasy ou de passar o dedo no pó de MD. Não há padronização alguma nessas drogas — o que só aumenta a insegurança ao consumir algo que, por si, já é bastante perigoso.

Ou seja, ninguém sabe quais os componentes e qual a proporção deles em uma dessas drogas sintéticas. Quem consumiu uma vez e saiu ileso — por gol de sorte — não pode ficar certo de que, se repetir a dose em outro dia, na mesma balada, comprando ilegalmente do mesmíssimo fornecedor, não acabará sendo mais uma vítima dessa sede, tão irresistível quanto enganosa.

 

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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