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Blog do Maurício de Souza Lima

O adolescente deve consumir mais fontes de cálcio do que crianças e adultos

Maurício de Souza Lima

02/05/2018 04h00

Crédito: iStock

 

O cálcio é um mineral importantíssimo ao longo da infância e, ainda mais, da adolescência, período em que a massa óssea aumenta sem parar e que os próprios hormônios, em ebulição na fase puberal, exigem para que aconteçam as mudanças esperadas no organismo.

 

Se o consumo ideal, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, fica em torno de 700 miligramas por dia para crianças de 1 a 3 anos e por volta de 1000 miligramas dos 4 aos 8 anos de idade, saiba que, em plena adolescência, entre os 9 e os 18 anos, a recomendação sobe para 1300 miligramas diários do mineral — só depois, na vida adulta, é que volta a cair. Só que isso parece missão quase impossível para muitos jovens. É mesmo desafiador.

 

Isso porque, justamente nessa etapa, os pais não têm muito controle da situação. Não adianta virem com leitinho, iogurte, queijo, colocar o espinafre à mesa… O menino e a menina mal tomam café da manhã, que seria uma bela chance de consumirem ao menos um copo de qualquer bebida láctea, e já saem apressados de casa. Na escola, o lanche nem sempre é uma maravilha. Na rua, ninguém sabe direito o que eles comem e provavelmente não é lá que estão consumindo uma boa fonte de cálcio.

 

Se a gente pensar no futuro, descuidar disso é criar a oportunidade para esse indivíduo desenvolver osteoporose lá adiante e sofrer fraturas, muitas vezes perigosas, na terceira idade. Pois hoje, quando olhamos para uma criança ou para um adolescente, precisamos zelar não só pelo seu desenvolvimento no presente, mas pela qualidade de vida que terá muitas décadas depois. A adolescência é uma fase de investir no amanhã em muitos sentidos. É importante prevenir problemas, inclusive aqueles típicos do envelhecimento, mesmo que diante de nós esteja uma pessoa bem no início de sua juventude.

 

As melhores fontes de cálcio são — como já deve saber — leite e seus derivados. E não há desculpa: para aqueles que apresentam algum grau de intolerência à lactose, existem no supermercado dezenas de produtos sem esse açúcar típico dos laticínios.  Outras fontes, para os que não engolem leite de jeito algum, são os vegetais de tom verde-escuro e peixes como a sardinha, além de alimentos suplementados. 

 

Eu, pessoalmente, sempre acho que devemos optar em primeiro lugar pela alimentação  equilibrada, que inclui esses itens. Noto, no consultório, que os suplementos de cálcio muitas vezes provocam mal-estar digestivo e há trabalhos apontando que eles aumentam o risco de outros problemas, como pedras nos rins. Então, antes de assumir esse risco, pondero com o próprio adolescente e com os pais. Será que vale a pena?

 

É importante que o médico, para avaliar eventuais carências, sempre peça a dosagem no sangue do cálcio e, ainda, da vitamina D, sem a qual o mineral não será tão bem aproveitado pelo esqueleto. O próprio corpo se encarregaria de sintetizá-la, se a moçada de hoje passasse menos tempo trancada em casa e tomasse um pouco mais de sol. Infelizmente, não raro encontramos deficiências e, no caso da vitamina D, precisamos apelar para a suplementação.

 

Também acho muito bacana que todo adolescente faça uma densitometria óssea do corpo inteiro. Esse é um exame que meus colegas médicos pedem com maior frequência para pacientes mais velhos, em especial mulheres que se aproximam da menopausa ou que já estão nela. Em geral, esses pacientes fazem a densitometria só da bacia e do fêmur, para saber se têm uma osteoporose. Para o adolescente, o ideal é — repito — que o exame obtenha uma imagem dos ossos da cabeça aos pés.

 

Com ela, um médico especializado em adolescentes, como eu,  consegue ver, claro, a quantidade de massa óssea que o organismo já produzi. Ela será uma espécie de poupança — e é bom fazer de tudo para poupar mais e mais. Porque, com o passar do tempo, todo mundo perde um pouco de cálcio do esqueleto. Invariavelmente. Uns mais e outros menos.  Aqueles que formaram ossos muito robustos na adolescência sentirão menos — é como se pudessem se dar ao luxo de perder um pouco de cálcio, porque não sentirão tanto a sua falta. 

 

O clínico hebiatra, por meio da densitometria óssea, pode obter outras informações sobre o desenvolvimento, observando, por exemplo, alguns desequilíbrios de crescimento  ósseo por trás de problemas posturais. Daí a recomendação de conseguir a imagem completa, aquela do corpo inteiro.

 

Se existem problemas na alimentação relatados durante a consulta e confirmados pelas dosagens no sangue — e, ainda mais, se existem problemas flagrados pela densitometria —, o certo será encaminhar o adolescente para o nutrólogo ou para o nutricionista. Será preciso acompanhar o seu cardápio mais de perto e, como isso não é fácil, toda orientação especializada será bem-vinda.

 

 Mas fica aqui uma última dica, tão fundamental quanto beber leite ou ingerir outra fonte de cálcio: exercício físico faz toda diferença. O jovem precisa do estímulo elétrico da movimentação para que o esqueleto bote para dentro todos esses nutrientes. Ou o esforço de ajustar as refeições não renderá tanto assim.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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