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Blog do Maurício de Souza Lima

Adolescente deveria colocar prótese de silicone nas mamas?

Maurício de Souza Lima

28/02/2018 04h00

Adolescente pode colocar prótese de silicone

Crédito: iStock

Muitas meninas nem esperam o corpo estar completamente desenvolvido: elas se olham no espelho e cismam que não têm peito. Seguindo alguns padrões de beleza, querem colocar depressa um implante de silicone para usarem biquíni nas férias, vestirem uma roupa decotada na balada e, enfim, se sentirem mais adultas depressa.

Algumas garotas até propõem certas trocas aos pais. Abrem mão da festa de 15 anos, por exemplo, para fazerem uma cirurgia plástica. E será que isso teria algum risco? É uma pergunta que ouço com relativa frequência.

A vontade de colocar silicone nos seios quando a garota ainda é muito jovem é mais um exemplo da precipitação dos tempos modernos. Um cirurgião plástico habilidoso poderá, claro, minimizar os riscos inerentes da operação em si — que são os mesmos em qualquer idade, é bom eu deixar isso claro.

Um deles é o de o procedimento atrapalhar a amamentação no futuro. Mas repito: um bom cirurgião plástico afastará essa e outras ameaças. Portanto, os riscos para a saúde nem são o maior motivo para alguém refletir um pouco sobre o desejo de uma adolescente de colocar o implante de silicone, em vez de sair acatando esse pedido.

O ponto fundamental, ao meu ver, é dar tempo ao tempo. O certo seria, para começo de conversa, esperar o que nós, médicos, chamamos de desaceleração do estirão da puberdade. E, no caso das meninas, essa desaceleração acontece depois de uns dois anos da primeira menstruação, em média. Ou seja, uma garota que menstruou bem perto dos 14  deveria esperar no mínimo até os 16 para fazer a plástica. No mínimo.

Um dos motivos para aguardar é que, até lá, as mamas podem ainda crescer.  Sem contar que, em alguns casos, se a menina começa a usar pílula — e, às vezes, ela é prescrita até mesmo para controlar um quadro de acne ou de ovários policísticos —, as glândulas mamárias talvez cresçam um pouco mais também. Ou seja, não faz sentido cismar com as medidas sem esperar para ver no que elas vão dar no final do estirão.

Tem mais: não vale só focar no tamanho das mamas. Bom lembrar que, nessa fase, os hormônios vão entrando aos poucos nos eixos. E, enquanto isso, é como se os depósitos de gordura do corpo fossem redistribuídos. Surgem então as famosas curvas.

As curvas, quando aparecem, podem mudar todas as proporções de um corpo. Assim, uma prótese que no início parecia quase pequena será capaz de deixar a jovem com um aspecto até mesmo mais gordo. Ou, no sentido oposto, um tamanho de implante que parecia harmonioso, uma vez terminado o estirão, parecerá pequeno demais, desproporcional à largura resultante do quadril.

Sobretudo, é preciso dar um intervalo para a garota amadurecer e ver se é isso mesmo o que ela quer. Ora, o auge do estirão costuma ser também o ápice das questões relativas à imagem corporal. Em um dia, a menina se acha linda. No outro, já se vê pavorosa. Nessa gangorra de percepções diante do espelho, qualquer atitude muito definitiva — como a de fazer uma plástica para aumentar as mamas — pode provocar arrependimentos posteriormente. O bom senso exige calma.

No entanto, se a jovem já menstruou há mais de dois anos e demonstra estar muito segura do que deseja — segurança que os pais precisam ter sensibilidade para checar se é pra valer — , então que ela vá em frente, se for possível para a família lhe proporcionar a operação. É evidente que existe a necessidade de procurar um ótimo cirurgião plástico, que tenha todas as referências e as qualificações.

Mas, se a menina tem muita certeza, as novas medidas do busto poderão inflar até mesmo a sua autoestima, o que também pesa na decisão.

Sobre o autor

Maurício de Souza Lima é hebiatra, ou seja, um clí­nico geral especializado na saúde de adolescentes. Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti em 2007.

Sobre o blog

Aqui, Maurí­cio de Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude, lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.

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