Para proteger o cérebro, melhor adiar ao máximo a experimentação da maconha
Não vou entrar no mérito de questões legais nem morais: no dia a dia do consultório, percebo muito mais gente usando substâncias psicoativas do que antes. E todas elas –como certos remédios, balinhas consumidas nas baladas, álcool e maconha– não recebem esse rótulo à toa. Ora, são psicoativas justamente porque mexem com a cabeça. E fazem isso, claro, em usuários de qualquer idade. Mas, na adolescência, o seu potencial de desorganizar as conexões entre as células nervosas é bem maior. Isso fica bem evidente em estudos sobre a maconha.
No cérebro de um adolescente, a região do córtex pré-frontal está em ebulição, com seus neurônios formando o tempo inteiro novas sinapses para resultar no amadurecimento do próprio indivíduo –um processo que começa em torno dos dez anos e que se completa por volta dos 25 anos de idade. E o uso de maconha, nesse período, pode causar um curto-circuito. É como se o sistema nervoso central não estivesse pronto para viver a experiência e sair dela sem se abalar.
Claro, nem todo adolescente terá problemas. Já ouvi até mesmo adultos, que já são quarentões ou cinquentões, retrucando que fumam maconha desde a juventude e tornaram-se profissionais de enorme sucesso, sem ter qualquer transtorno mental por causa do uso recreacional da droga. Vou repetir: não dá para generalizar.
Também já ouvi alegações de que a maconha para pura recreação é permitida em alguns estados americanos, na Holanda, na Espanha… Bem, vale lembrar que se trata de um mercado impulsionando milhões de dólares e euros. E a saúde de um jovem não paga tanto imposto. Minha questão aqui é uma só: expor o perigo, factível, para um sistema nervoso que ainda não está totalmente formado.
O que posso garantir é que sempre existe um risco e que todas as pesquisas apontam que ele é maior quanto mais jovem é o usuário. Por isso, aviso aos pais e aos próprios adolescentes: se tem curiosidade, saiba que quanto mais puder adiar a experimentação, mais seguro será.
Para a família, chego a comparar a situação com o uso de protetor nas tomadas quando o bebê começa a engatinhar: ora, a gente não quer protegê-lo de um choque? Para um adulto, a corrente elétrica seria capaz de dar um susto daqueles ou fazer algum estrago. Já para a criança pequena, ele seria forte o bastante para danificar o sistema nervoso de maneira irreversível. É a mesma coisa. Consumir maconha na adolescência –ainda mais nos primeiros anos de adolescência, vou frisar– é colocar as células nervosas sob ameaça. Difícil é encontrar o equivalente aos protetores de tomada. Talvez só mesmo o diálogo.
Imagino a sua pergunta: "E que risco é esse?". Um deles é o do baseado desencadear ataques de pânico e surtos psicóticos. Surtos, aliás, que antes eu só via em livros e durante congressos, mas que agora aparecem no meu consultório. E, claro, esses pacientes, surtados depois de acender um cigarrinho, são encaminhados ao psiquiatra. Em casos extremos, o uso da maconha pode ser o gatilho para a esquizofrenia. Não acontece com todos nem com tanta frequência. Mas é uma possibilidade assustadora e real.
Outra situação, talvez menos rara –e difícil de mensurar– é a maconha lesar a capacidade cognitiva. No fundo, todo jovem sabe. É até comum eu ouvir que o garoto pretende deixar de fumar só na semana de provas. Afinal, ele nota que a maconha, embora relaxe e lhe traga prazer, deixa seu raciocínio mais lento. Só que tenho uma má notícia: de alguma maneira, a capacidade de raciocinar pode nunca voltar a ser a mesma.
E saiba: esse dano cognitivo é mais observando quando o jovem experimenta a droga antes dos 15, 16… O inteligente mesmo seria passar longe ou, ao menos, deixar para depois.
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